Scout Niblett, a fera amansada
Há qualquer coisa de estranho quando se fala de rock em feminino. Muito facilmente as referências que se apontam são PJ Harvey, quando se trata de rock mais sanguíneo, ou Cat Power, quando a música é mais dada à melancolia. Scout Niblett, que tem sido comparada às duas, merece que se tente ir mais além.
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Há qualquer coisa de estranho quando se fala de rock em feminino. Muito facilmente as referências que se apontam são PJ Harvey, quando se trata de rock mais sanguíneo, ou Cat Power, quando a música é mais dada à melancolia. Scout Niblett, que tem sido comparada às duas, merece que se tente ir mais além.
É uma das mais singulares artistas femininas. A sua música faz-se de poucos meios, quase sempre uma guitarra e uma bateria. As suas canções - perigosas, mas mansas, habitadas por fantasmas, mas resignadas - são influenciadas pelas estruturas simples dos Nirvana, pelo som de guitarra de Kurt Cobain, pela doçura falsamente ingénua de Mirah. "Os Nirvana foram os primeiros que me fizeram querer tocar guitarra", afirmou Niblett à "webzine" Stay Fun. Mas, ressalvou, a sua principal inspiração na escrita de canções é o rei da canção marginal e "lo-fi", Daniel Johnston.
Nos concertos que a inglesa fixada nos Estados Unidos vem dar a Portugal - nos Passos Manuel, Porto, e na ZDB, em Lisboa - deve antecipar "The Calcination of Scout Niblett", com edição marcada para Janeiro, na Drag City. Foi nessa editora que lançou, em Abril, um sete polegadas com dois temas, "My Beloved" (grande canção, lamento eléctrico repetitivo, a voz de Niblett em várias camadas) e "It's Time" (perfeito reverso da medalha). "This Fool Can Die Now", o último álbum de Niblett, surgiu na 21ª posição da lista de melhores discos de 2008 para o Ípsilon ("Raros discos conseguem raiar de tão perto a ideia de desespero e sair por cima da beleza", escreveu João Bonifácio).