Irão teme uma "segunda-feira sangrenta", se o regime reprimir protestos de estudantes

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A repressão encorajará mais protestos, avisam os que querem mudança Ahmed Jadallah/Reuters

As autoridades mobilizaram milhares de agentes de segurança, recrutaram informadores nas universidades onde, nas últimas semanas, detiveram dezenas de jovens (alguns forçados a desistir dos estudos), bloquearam linhas telefónicas e serviços de Internet, proibiram (por sms) os jornalistas estrangeiros de saírem dos seus escritórios até dia 9, e reafirmaram que qualquer manifestação será violentamente reprimida.

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As autoridades mobilizaram milhares de agentes de segurança, recrutaram informadores nas universidades onde, nas últimas semanas, detiveram dezenas de jovens (alguns forçados a desistir dos estudos), bloquearam linhas telefónicas e serviços de Internet, proibiram (por sms) os jornalistas estrangeiros de saírem dos seus escritórios até dia 9, e reafirmaram que qualquer manifestação será violentamente reprimida.

Os que querem derrubar o sistema e aqueles que apenas o querem mudar avisaram, por seu turno, que a repressão só encorajará mais protestos, e arrisca-se a precipitar o óbito da República Islâmica fundada pelo ayatollah Khomeini.

"Será muito triste, se virmos repetidos os mesmos erros por parte de responsáveis que insistem em pôr fim às reformas", disse Mir-Hossein Mousavi, o candidato derrotado nas eleições de Junho, cuja cor de campanha inspirou um "Movimento Verde" de contestação ao Presidente, Mahmoud Ahmadinejad, ao Guia Ali Khamenei e aos seus protectores, os Guardas da Revolução e a milícia Bassij.

"Apesar de tantas pressões, o movimento não morreu", garantiu Mousavi, num comunicado divulgado através do website Kaleme, por sua vez citado pela agência Reuters.

Muito mais duro nas suas críticas, o ayatollah Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, presidente de duas poderosas instituições - a Assembleia dos Peritos (única capaz de nomear e demitir o Supremo Líder) e do Conselho do Discernimento (que serve de árbitro entre o Governo e o Parlamento), acusou, publicamente, os actuais dirigentes de "intolerância".

Num encontro com estudantes e políticos reformistas na cidade de Mashhad, Rafsanjani exortou os seus adversários no poder a "criar um clima de liberdade", porque "uma sociedade segura é uma sociedade crente, que não está infectada pela injustiça. (...) Sempre fui contra os extremismos. Se a voz da moderação prevalecer na sociedade, muitos dos actuais problemas serão resolvidos."

No que foi entendido como um sinal verde para os planeados protestos de hoje, Rafsanjani pediu apenas aos manifestantes que se "exprimam no quadro da legalidade".

A preocupação de Rafsanjani com a sobrevivência de um sistema que ajudou a implantar foi igualmente expressa por Amir Mohebbian, um estratega político conservador que partilha a ideologia de Ahmadinejad mas se opõe às suas políticas. "Quando atacamos os moderados, damos força aos radicais", escreveu o ex-deputado no jornal Ettemad. "Os nossos líderes deviam dizer aos manifestantes: "Não estamos contra vós."De outro modo, o nosso sistema pode estar em perigo. (...) Este problema não se resolve com o passar do tempo; pelo contrário, vai agravar-se."

Paralisia no Governo

As divisões no regime estão a paralisar o processo de decisão política, salientou, por seu turno, o Washington Post, notando que cada decisão governamental gera uma guerra aberta. Um exemplo: Ahmadinejad exigiu, recentemente, que a construção do metropolitano de Teerão fique sob a alçada do Governo central, para o tornar "mais eficiente". O presidente da Câmara de Teerão, Mohammad Baqer Qalibaf, um conservador que aspira a ocupar o lugar de Ahmadinejad, opôs-se e venceu.


Consciente da fragilidade dos diversos centros de poder desde as presidenciais de Junho, o Movimento Verde não se mostra disposto a baixar os braços, apesar de milhares de iranianos terem sido presos, torturados e submetidos a julgamentos em massa com confissões forçadas.

Diferentes agendas

A grande incógnita, hoje, é se os protestos se limitarão aos recintos das universidades ou se conseguirão furar o cerco de milhares de pasdaran e bassijis, alastrando às ruas das principais cidades.


O Dia Nacional do Estudante foi instaurado após a revolução islâmica de 1979 em memória de três jovens mortos pelo exército do Xá Pahlavi durante uma revolta contra o golpe da CIA que derrubou o primeiro-ministro nacionalista Mohammad Mossadegh e voltou a colocar o imperador no Trono do Pavão. Desde os anos 1990, porém, a ocasião é usada para desafiar o actual regime.

As declarações de ontem de Rafsanjani e de Mousavi são indicador de como a agenda destes dois discípulos de Khomeini é tão diferente da dos jovens, mulheres, académicos e intelectuais que exigem mais liberdade e menos restrições sociais, políticas e religiosas.

Rafsanjani, Mousavi, o ex-Presidente Khatami e o mullah Mehdi Karroubi podem identificar-se com os reformistas ou "conservadores pragmáticos", mas o seu objectivo é manter a teocracia criada há 30 anos. Os jovens que estão a organizar os protestos de hoje querem mais: democracia.