Escavação arqueológica aponta para canibalismo em massa na Alemanha
Uma vala fúnebre com uns sete mil anos contém os restos de mais de 500 esqueletos humanos – incluindo os de crianças e fetos – que apresentam sinais de terem sido “intencionalmente mutilados”, com os ossos cortados e partidos como era feito aos animais para serem comidos, defende o antropologista Bruno Boulestin, que lidera a equipa da Universidade de Bordeaux, em França, responsável por este novo estudo.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Uma vala fúnebre com uns sete mil anos contém os restos de mais de 500 esqueletos humanos – incluindo os de crianças e fetos – que apresentam sinais de terem sido “intencionalmente mutilados”, com os ossos cortados e partidos como era feito aos animais para serem comidos, defende o antropologista Bruno Boulestin, que lidera a equipa da Universidade de Bordeaux, em França, responsável por este novo estudo.
“Detectámos padrões [de cortes dos ossos] em animais que foram cozinhados em espetos. E encontrámos esses mesmos padrões nos ossos humanos [encontrados em Herxheim], avançava o perito em declarações à BBC online. A investigação naquela localidade alemã iniciou-se em 1996, quando o local foi escavado pela primeira vez, até 1999, e depois explorado de novo entre 2005 e 2008.
Em declarações à revista norte-americana "Science News", Boulestin explicou que “o sacrifício humano em Herxheim é uma hipótese difícil de provar agora”. “Mas temos indícios de que várias centenas de pessoas foram comidas durante um certo período de tempo”, sustentou. Num artigo publicado na edição de Dezembro do jornal de topo da especialidade "Antiquity", estes investigadores afirmam que a localidade alemã oferece “provas muito raras” de que o canibalismo foi praticado na Europa no início do Neolítico – quando a actividade da agricultura começava a expandir-se na região central do continente.
Crê a equipa de Boulestin que o canibalismo terá ocorrido durante cerimónias em que eram mortos e comidos escravos, prisioneiros de guerra e outros “candidatos a sacrifícios rituais”, avançando a teoria de que várias formas de violência terão despoletado na Europa Central durante aquela altura devido a crises sociais e políticas.
Mas outros dois peritos alemães contestam firmemente esta tese: Jörg Orschiedt, da Universidade de Leipzig, e Miriam Haidle, do Instituto de Pesquisas e Museu de História Natural Senckenberg, em Frankfurt, sustentam que os achados de Boulestin se encaixam bem mais adequadamente num cenário em que os mortos foram enterrados uma segunda vez em Herxheim após o desmembramento e retirada da carne dos ossos.
“Provas de práticas cerimoniais de segundos funerais já foram encontradas em muitas sociedades antigas”, explicam estes arqueologistas – que estudaram os ossos encontrados em Herxheim há uma década – num comunicado conjunto feito à Science News.