Vara terá sido avisado de que Sócrates estava a ser escutado

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O auto-suspenso vice-presidente do BCP está proibido de contactar alguns dos outros arguidos Adriano Miranda (arquivo)

A carta terá sido enviada meses antes e só foi encontrada pela Polícia Judiciária a 28 de Outubro, altura em que fez buscas à sede do banco no âmbito do caso Face Oculta. A revista garante também que quando os investigadores do processo leram a missiva reforçaram a convicção de que alguém tinha dito a Armando Vara para avisar José Sócrates de que as suas conversas estariam a ser gravadas, quebrando o sigilo numa das fases mais importantes do caso.

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A carta terá sido enviada meses antes e só foi encontrada pela Polícia Judiciária a 28 de Outubro, altura em que fez buscas à sede do banco no âmbito do caso Face Oculta. A revista garante também que quando os investigadores do processo leram a missiva reforçaram a convicção de que alguém tinha dito a Armando Vara para avisar José Sócrates de que as suas conversas estariam a ser gravadas, quebrando o sigilo numa das fases mais importantes do caso.

A quebra do segredo por parte de alguns intervenientes está já a ser investigada pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP), assim como a suposta mudança de telemóvel ou de cartão por parte de algumas das pessoas que estariam a ser escutadas. O DIAP de Coimbra vai mesmo acusar um dos arguidos do processo do crime de violação do segredo de justiça por ter disponibilizado um despacho do Ministério Público a um canal de televisão, informou a Procuradoria-Geral da República, em comunicado.

Contudo, apenas o administrador suspenso do BCP terá estado sob escuta, pelo menos entre Março e Outubro deste ano, altura em que foram gravadas conversas entre o entretanto constituído arguido no âmbito do caso Face Oculta e José Sócrates.

As certidões foram, no entanto, arquivadas pela Procuradoria-Geral da República e já tinham antes sido retiradas do processo por ter sido colocada em causa a sua legalidade. Sobre as conversas entre Vara e Sócrates colocarem alegadamente em causa o Estado de Direito e referirem intervenções do primeiro-ministro no sector da comunicação social, Pinto Monteiro nada disse, limitando-se a afirmar que nada justificava a abertura de um processo. A “Sábado” escreve, ainda, que cartas semelhantes podem ter sido enviadas a outros suspeitos do Face Oculta.

Caução de 25 mil euros

Ontem o juiz de instrução do processo Face Oculta fixou uma caução de 25 mil euros para o auto-suspenso vice-presidente do Millennium BCP e proibiu-o de contactar alguns outros arguidos. O antigo ministro ficou indiciado por um crime de tráfico de influência, menos um do que o que era pedido pelo Ministério Público.

O arguido escusou-se ao “papel de comentador,” quando lhe foi perguntado se concordava com as declarações do ministro Vieira da Silva sobre alegada “espionagem política” relativamente ao processo Face Oculta. Também questionado sobre se abordaria esta questão com o primeiro-ministro, José Sócrates, com quem manteve conversas escutadas e não validadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, declarou: “Não tenho falado com ele, não sei se vou falar com ele, nem esse é assunto que lhe diga respeito”.

O processo Face Oculta investiga alegados casos de corrupção e outros crimes económicos relacionados com empresas do sector empresarial do Estado e empresas privadas. São conhecidos 18 arguidos, acusados de mais de 60 crimes, como corrupção, tráfico de influências, associação criminosa, furto, burla e receptação.

A PJ desencadeou a 28 de Outubro a operação Face Oculta em vários pontos do país, no âmbito de uma investigação relacionada com alegados crimes económicos de um grupo empresarial de Ovar que integra a O2-Tratamento e Limpezas Ambientais, a que está ligado Manuel José Godinho, que se encontra em prisão preventiva.

No decurso da operação foram efectuadas cerca de 30 buscas, domiciliárias e a postos de trabalho, e pelo menos 18 pessoas foram constituídas arguidas, incluindo Armando Vara, ex-ministro socialista e vice-presidente do BCP, que suspendeu funções, José Penedos, presidente da REN-Redes Eléctricas Nacionais, e o seu filho Paulo Penedos, advogado da empresa SCI-Sociedade Comercial e Industrial de Metalomecânica SA, de Manuel José Godinho.