Avenida para todas as liberdades
O ano passado Lisboa descobriu que tinha um novo festival de música. Super Bock em Stock de seu nome. Normalmente o sucesso de eventos do género ainda se faz à base da quantificação e não da enumeração das qualidades. Neste caso foi diferente. Percebeu-se que existia uma linha definida - privilegiar projectos rock e pop que fazem a actualidade, alguns deles ainda não totalmente conhecidos do grande público, mas com atributos para o virem a ser. Lykke Li, Santogold, Walkmen ou El Perro Del Mar foram alguns dos que passaram pela primeira edição.
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O ano passado Lisboa descobriu que tinha um novo festival de música. Super Bock em Stock de seu nome. Normalmente o sucesso de eventos do género ainda se faz à base da quantificação e não da enumeração das qualidades. Neste caso foi diferente. Percebeu-se que existia uma linha definida - privilegiar projectos rock e pop que fazem a actualidade, alguns deles ainda não totalmente conhecidos do grande público, mas com atributos para o virem a ser. Lykke Li, Santogold, Walkmen ou El Perro Del Mar foram alguns dos que passaram pela primeira edição.
Depois, coisa rara, é um evento que pede aos espectadores que sejam activos, que estabeleçam escolhas, porque decorrem vários concertos em simultâneo. Tal como uma cidade se descobre tendo disponibilidade para a aventura, vagueando, também um festival deve ser um convite à descoberta e não um simples espaço de confirmação.
Por último, e mais uma vez coisa rara em Portugal, é um evento com efeitos transversais. Faz-nos olhar para uma zona nobre da cidade de Lisboa - a Avenida da Liberdade - com problemas de identidade e pouco vivida durante a noite. Durante duas noites é sentida, o público é convidado a participar numa dinâmica rotatória, descobrindo-a.
Na edição deste ano não há o charmoso teatro Variedades, que levou o ano passado muitas pessoas a abrirem a boca de espanto pelo potencial que esconde, mas haverá as duas salas do cinema S. Jorge, o Teatro Tivoli, o clube Maxime, o LA Caffe, o restaurante do terraço do hotel Tivoli e o espaço do parque de estacionamento Marquês de Pombal.
E há a música, claro. Muita música. Mais de trinta concertos durante duas noites. Alguns são nomes já conhecidos como Beach House, que apresentam o novo álbum a editar em Janeiro, os Little Joy de Fabrizio Moretti dos Strokes, ou a britânica Ebony Bones, singular mistura de tribalismo urbano garrido na senda de M.I.A. e pós-punk dançante na linha dos LCD Soundsystem, que tem sido presença regular em Portugal no último ano.
De Inglaterra, algumas boas bandas. Os Wild Beasts, que acabaram de lançar o segundo álbum, os injustamente pouco conhecidos em Portugal Wave Machines, exemplo de criativa mescla de electrónicas e rock, os Piano Magic, que apresentam o novo registo "Ovations", e os The Invisible. Estes estrearam-se este ano com um excelente álbum produzido por Herbert, lançado na editora deste, a Accidental, que também revelou Micachu and the Shapes. Praticam um rock sonhador, que tanto pode evocar TV On The Radio como os velhos A.R.Kane.
Do outro lado do Atlântico, chega o canadiano Patrick Watson, com canções que são paisagens inteiras (folk, rock, jazz) desdobrando-se à nossa frente. Também canadiano, mas a viver em Berlim, o excêntrico Mocky é garantia de reinação e virtuosismo. Do Texas, virá o rock seguro dos Voxtrot, enquanto de Nova Iorque os Blacklist prometem rock & roll sem mediações. Na senda do radicalismo, atenções viradas para o duo francês Kap Bambino, que vivem cada concerto como se fosse o último.
Quem quiser confirmar que a música pop portuguesa passa por um bom momento não terá mãos a medir. O cada vez mais internacional Legendary Tiger Man vai suscitar muitas das atenções, mas de Mazgani a Samuel Úria, do hip-hop instrumental dos Orelha Negra ao rock de Os Golpes, do rock com fúria dos Easyway ao intimismo de Noiserv, passando pelo projecto Pássaro Cego, que reúne o pianista Manuel Paulo e a cantora cabo-verdiana Nancy Vieira, existe um mundo de coisas para descobrir.
No papel, o Super Bock em Stock é um convite à interacção em lugares públicos, partindo da música. Nos últimos anos, com a crise da indústria dos discos, os espectáculos ao vivo ganharam nova dinâmica. Há cada vez mais desejo de participar nesse ritual colectivo onde se pede que exista imaginação, nervo e emoção. Se possível, proximidade. Coisas que os grandes festivais ao ar livre, ou os concertos de estádio, não permitem. Mas hoje e amanhã, músicos e público podem descobrir-se, olhos nos olhos.