Principal aliado de Berlusconi pensa que ele “confunde liderança com monarquia absoluta”
As declarações de Fini, públicas, seguem-se à divulgação pelo site do jornal “La Repubblica” de outras, privadas, nas quais o político afirma que Il Cavalieri “confunde liderança com monarquia absoluta”. Se poucas dúvidas restavam sobre o mal-estar no seio do partido no poder e no Governo, estas palavras desfizeram-nas.
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As declarações de Fini, públicas, seguem-se à divulgação pelo site do jornal “La Repubblica” de outras, privadas, nas quais o político afirma que Il Cavalieri “confunde liderança com monarquia absoluta”. Se poucas dúvidas restavam sobre o mal-estar no seio do partido no poder e no Governo, estas palavras desfizeram-nas.
Berlusconi “está a confundir aprovação popular - que ele obviamente tem e que lhe dá o direito legítimo de governar - com impunidade de qualquer tipo, seja na magistratura, nos recursos legais, face ao chefe de Estado ou ao Parlamento”, disse Fini durante uma entrega de prémios privada em Pescara.
Fini já se recusou a comentar estas declarações, explicando que não deve explicar-se “sobre um vídeo roubado”. Mas as suas palavras continuam a gerar reacções. “Eu já lhe disse que ele confunde liderança com monarquia absoluta, depois em privado disse-lhe ‘Lembra-te que lhe cortaram a cabeça [provavelmente a Luís XVI]’ e fica calmo”, disse ainda o antigo líder da Aliança Nacional (pós-fascista), partido que se uniu à Força Itália de Berlusconi no novo Povo da Liberdade.
Apesar do seu passado fascista, Fini tornou-se nos últimos anos num político considerado moderado e respeitado até pela oposição de esquerda, nomeadamente quando a comparação se faz com Berlusconi, às voltas com problemas da justiça e escândalos pessoais.
Uma revoluçãoOs apoiantes do primeiro-ministro tentaram desvalorizar as palavras de Fini e riram do embaraço que estas provocaram, mas os líderes da oposição tentaram aproveitar o momento. O chefe do Partido Democrático, Pierluigi Bersani, disse que esta foi “a confirmação dos problemas da maioria”. Antonio Di Pietro, do mais pequeno Itália dos Valores, assegura que os escândalos que enfraqueceram Berlusconi deixaram a Itália “à beira de uma nova revolução”.
Desde que o Tribunal Constitucional fez cair a lei que lhe dava imunidade, em Outubro, e Berlusconi percebeu que regressaria em breve aos tribunais, o primeiro-ministro tem oscilado entre as garantias de que não deixará o poder antes de tempo (o seu mandado só acaba em 2012) e as ameaças aos aliados: se não o ajudarem, nomeadamente aprovando uma nova lei de prazos de prescrições judiciais que o ajude a evitar a justiça, o Governo cairá.
Para já, Berlusconi conseguiu faltar às duas sessões dos dois julgamentos que ainda decorriam e que o fim da sua imunidade legal reanimou. O chefe de Governo invocou sempre obrigações de Estado.
Mas já na próxima sexta-feira, num outro julgamento, poderão surgir novas declarações incómodas para o presidente do Conselho. O mafioso Gaspare Spatuzza, agora informante, poderá repetir em tribunal o que já disse aos magistrados: que Berlusconi e o senador Marcello Dell’Ultri (um dos seus aliados mais antigos) lhes foram referidos como tendo estado envolvidos numa campanha de ataques da máfia de 1993, ano em que Berlusconi entrou na política.
Os ataques bombistas, em Roma, Milão e Florença, foram parte da guerra da máfia contra o Estado e visavam conseguir aligeirar o regime de prisão de vários mafiosos condenados nos anos anteriores. Em Florença morreram cinco pessoas.
“Se há uma pessoa que, por natureza, sensibilidade, mentalidade, passado, cultura e esforço político está longe da máfia, essa pessoa sou eu”, disse Berlusconi, em resposta a notícias que antecipavam o testemunho de Spatuzza. Dia 4 o tribunal de Palermo vai reunir no processo do recurso interposto por Dell’Ultri, antigo companheiro de negócios de Berlusconi que com ele entrou na política, condenado por associação mafiosa a nove anos de prisão.