Uma das dificuldades em relação à poupança é a incapacidade de lidar com o futuro

Ao optarmos por não jantar fora, ou deixarmos de comprar uns sapatos, por exemplo, sabemos exactamente o que nos está a custar, enquanto em contraponto está algo mais intangível, até porque não sabemos exactamente de quanto é que vamos precisar. Para Dan Ariely, que participa amanhã numa conferência sobre Como poupar para a reforma e manter o nível de vida, organizada pela Fidelidade Mundial e Império Bonança, a solução passa por criarmos novos hábitos, de forma continuada, ou deixar que a decisão seja tomada por outros.

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Ao optarmos por não jantar fora, ou deixarmos de comprar uns sapatos, por exemplo, sabemos exactamente o que nos está a custar, enquanto em contraponto está algo mais intangível, até porque não sabemos exactamente de quanto é que vamos precisar. Para Dan Ariely, que participa amanhã numa conferência sobre Como poupar para a reforma e manter o nível de vida, organizada pela Fidelidade Mundial e Império Bonança, a solução passa por criarmos novos hábitos, de forma continuada, ou deixar que a decisão seja tomada por outros.

A opção com mais impacto, defende, é mesmo "utilizar uma entidade ex-terna, ter uma conta específica para esse efeito e obrigarmo-nos a transferir o dinheiro". Para isso há que tomar uma decisão racional e agir nesse sentido, contrariando o facto de, apesar da nossa inteligência, tomarmos decisões irracionais todos os dias.

Há diversos ingredientes que nos afastam da racionalidade, como as emoções. "O que acontece é que a emo-?ção não se mistura com a razão, antes a substitui", afirma. Um outro tipo de irracionalidade, diz, surge pela dificuldade em reter todas as informações. "De acordo com a teoria económica, devíamos ser capazes de analisar todas a variáveis. Ao comprar um telemóvel, se nos perguntarem o que é que deixamos de poder adquirir no futuro, essa é uma análise difícil de fazer porque temos dificuldades em calcular o seu custo/benefício. É muito complicado tomar sempre decisões puramente racionais", assegura.

Pense-se no consumo, e na forma como algumas empresas induzem a procura através da capacidade da oferta, defendendo este autor que a oferta e a procura não são independentes. Um exemplo de irracionalidade que Dan Ariely dá no seu livro, Previsivelmente Irracional, é o dos preços, com as empresas a colocarem à venda um artigo muito mais caro de modo a fazer com que o que está abaixo desse, já elevado, seja sentido como mais barato. E mesmo quando temos o conhecimento dessa táctica torna-se difícil resistir. "O que espero é que as pessoas se reconheçam em alguma parte do livro que escrevi, que identifiquem as falhas que cometem e que as diminuam", aponta.

Uma forma de o fazer passa por confiar menos nas primeiras reacções. Devemos abrandar e avaliar as nossas escolhas. Por outro lado, afirma, "é difícil pensarmos de forma sistemática sempre que queremos comprar algo. O melhor é tomarmos uma determinada atitude em relação ao que fazemos, criar uma estratégia, e segui-la". O certo é que, segundo a teoria de Dan Ariely, somos muito mais irracionais do que julgamos, e parte do problema advém do desconhecimento desse facto. "Não percebemos o efeito das forças que controlam os nossos comportamentos", sublinha, como em ocasiões em que associamos a qualidade de um produto ao preço, sem que haja uma razão para isso. Ariely dá o exemplo de um analgésico, apresentado como sendo muito caro, sem de facto o ser, e o resultado é que a pessoa sente a dor diminuir de forma mais acentuada do que se fosse um produto barato.

Para todos os efeitos, "esta é uma área onde a ciência pode ajudar", afirma, porque "é difícil, a partir do interior da nossa própria cabeça, ver sempre as coisas de forma correcta".