Vampiros e lobisomens de plástico
"Lua Nova", de Chris Weitz, não se assume como um filme, mas como parte de um fenómeno mediático (chamar-lhe "pop" seria insultar o conceito): a popularidade dos romances de Stephanie Meyer, escritora de uma inacreditável série de histórias de vampiros para meninas românticas, "The Twilight Saga", ambientada numa cidade americana, sem interesse literário ou relevância na longa tradição desencadeada há mais de cem anos pelo "Drácula" de Bram Stoker. Por outro lado, uma vez que se trata de uma sequela dependente de contexto, conta com o conhecimento prévio por parte dos espectadores (iniciados ou simplesmente informados) da primeira incursão por este universo de pacotilha ("romanceco de água chilra", chamámos-lhe então), "Crepúsculo" (2008), inglório exercício para ressuscitar um género de grandes pergaminhos fílmicos, desde o genial "Nosferatu" de Murnau, ou o "Drácula" de Tod Browning, até aos Dráculas multicoloridos da Hammer, não esquecendo variações posteriores - Warhol, Coppola, Carpenter ou Ferrara, para apenas nomear as essenciais.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
"Lua Nova", de Chris Weitz, não se assume como um filme, mas como parte de um fenómeno mediático (chamar-lhe "pop" seria insultar o conceito): a popularidade dos romances de Stephanie Meyer, escritora de uma inacreditável série de histórias de vampiros para meninas românticas, "The Twilight Saga", ambientada numa cidade americana, sem interesse literário ou relevância na longa tradição desencadeada há mais de cem anos pelo "Drácula" de Bram Stoker. Por outro lado, uma vez que se trata de uma sequela dependente de contexto, conta com o conhecimento prévio por parte dos espectadores (iniciados ou simplesmente informados) da primeira incursão por este universo de pacotilha ("romanceco de água chilra", chamámos-lhe então), "Crepúsculo" (2008), inglório exercício para ressuscitar um género de grandes pergaminhos fílmicos, desde o genial "Nosferatu" de Murnau, ou o "Drácula" de Tod Browning, até aos Dráculas multicoloridos da Hammer, não esquecendo variações posteriores - Warhol, Coppola, Carpenter ou Ferrara, para apenas nomear as essenciais.
O que torna este objecto insignificante em algo de quase ofensivo? Personagens não há, reduzidas que estão a estereótipos de museu de figuras de cera originadas numa patética ficção de amores juvenis e liceais. A inscrição no cenário e no contexto social reduz-se a uma anedota ilustrada de decadências simplistas. O erotismo, marca indelével deste tipo de terror, reduz-se a mostrar os bíceps desenvolvidos dos actores, em mortífera sensaboria, uma vez que, como sabemos do original, a castidade da protagonista está defendida à prova de bala, eternamente protegida pelo conservadorismo do seu apaixonado vampiro que resiste (até agora) a dar-lhe a "mordidela". O ambiente de terror, ele próprio, esgota-se nos efeitos especiais de uma pirotecnia digna de bocejo. O filme dura cerca de duas horas e parece durar cinquenta. Os actores possuem o carisma de estátuas de gesso e menos talento que os estreantes de "Morangos com Açúcar": a Bella de Kristen Stewart tem a beleza desenxabida de uma Natalie Wood de décima categoria e olha para a câmara com olhar vazio; o Edward de Robert Pattinson não passa de uma cópia pobre de um James Dean escanzelado, encharcado em pó de arroz; e o Jacob de Taylor Lautner parece-se com um bisneto de Schwarzenegger, recém-saído do ginásio.
Não contente com o relativo desconchavo do primeiro filme, a sequela alarga o absurdo à representação de jovens índios lobisomens que exibem o tronco nu como num anúncio de desodorizante, saltam de falésias e percorrem as florestas povoadas de florinhas de várias cores (acabadas de implantar pelos responsáveis da continuidade), transformados em lobos gigantescos de fábula para adolescentes retardados. Como se atrevem a escritora "best-seller" (aqui apetece inserir a "tradução" de Alexandre O'' Neill: "besta célere") e o "cineasta" a invocar o santo nome de Shakespeare em vão? Que raio tem a ver o "Romeu e Julieta", citado nas sequências iniciais da escola e instrumentalizado como ponte para o estúpido (e inútil) final em Volterra, com estes amores falsamente loucos entre uma puritana virgenzinha de província e um deslavado não-morto coberto de purpurinas brilhantes e de lábios pintados? Querem mais disparates? Que tal as câmaras lentas usadas a granel para tornar o tempo ainda mais insuportável? Ou as aparições do vampiro à sua Bella, de cada vez que ela afronta o perigo, tipo Nossa Senhora de Fátima a dar conselhos aos pastorinhos? Ou ainda a ideia peregrina de transformar os lobisomens em caçadores de vampiros para salvar os "pobres humanos"? E os vampiros aristocratas que lêem os pensamentos dos seus pares e controlam a "raça", durante um festival de vultos vestidos de vermelho (preferimos o Estádio da Luz) para celebrarem a expulsão dos vampiros, séculos atrás?
Não há "guilty pleasure" que justifique tamanhas aberrações. E o pior é que as meninas de todo o mundo gritam quando vêem os torsos nus e vão continuar a fazê-lo por, pelo menos, mais duas adaptações da inefável "romancista".