Na fronteira do jazz

Lançado entre nós no início deste ano, "As Soon as Possible" reúne três incríveis improvisadores - Vincent Courtois no violoncelo, Sylvie Courvoisier no piano e Ellery Eskelin no saxofone - numa estratégia informal de exploração das fronteiras que separam a clássica contemporânea do jazz.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Lançado entre nós no início deste ano, "As Soon as Possible" reúne três incríveis improvisadores - Vincent Courtois no violoncelo, Sylvie Courvoisier no piano e Ellery Eskelin no saxofone - numa estratégia informal de exploração das fronteiras que separam a clássica contemporânea do jazz.

Gravado em Nova Iorque em 2007, trata-se de um registo improvisado em que os músicos comunicam de forma invulgarmente livre, abandonando qualquer pré-formatação da música, não cedendo a convenções ou estereótipos musicais. O resultado, denso e exigente, é aquilo que poderíamos esperar da combinação destas três personalidades e dos seus percursos; Courtois e Courvoisier são improvisadores, com sólida formação clássica, cujos percursos se cruzam frequentemente com áreas não só do jazz mas também da música erudita; Eskelin é um dos mais originais e orgânicos saxofonistas no jazz.

No primeiro tema, "Sotto voce", somos de imediato confrontados com um som impressionista, delicado, feito de pequenas notas, por vezes apenas sons, uma música mais próxima de Ligeti que de um qualquer jazz. Courvoisier é uma das grandes mestres da insinuação musical e as suas intervenções envolvem as improvisações numa energia intemporal, característica da grande música. Courtois é simultâneamente lírico e abstracto, um verdadeiro "gentleman". No meio de uma música em que os pontos de referência são raros e sempre subtis, surge pontualmente um groove, uma pulsação um pouco mais jazz, permitindo a Eskelin a construção de um dos seus poderosos solos, regressando-se depois aos territórios de abstracção que conferem a "As soon as Possible" os contornos de uma verdadeira exploração musical.