Manuel Alegre pede às esquerdas que sejam capazes de se ouvir

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O ex-deputado regressa ao teor da mensagem que deixou aos socialistas na noite eleitoral Nelson Garrido (arquivo)

Num texto intitulado “Abertura e Inovação”, o ex-deputado socialista volta ao essencial da sua mensagem na noite eleitoral, em que recomendou ao PS que no Parlamento procure preferencialmente compromissos à esquerda.

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Num texto intitulado “Abertura e Inovação”, o ex-deputado socialista volta ao essencial da sua mensagem na noite eleitoral, em que recomendou ao PS que no Parlamento procure preferencialmente compromissos à esquerda.

Lembrando que “quem vota nos diferentes partidos da esquerda não quer ser governado à direita”, para Alegre “custa a crer que não seja possível um mínimo denominador comum”, pelo menos nas políticas públicas, no papel do Estado, na escola pública, no Código Laboral, e nos direitos sociais, nomeadamente no Serviço Nacional de Saúde. “Não se pede a ninguém que abdique. Pede-se apenas a cada uma das esquerdas que seja capaz de ouvir as outras.”

A revista, aliás, pretende isso mesmo: “Contrariar o tabu da incomunicabilidade das esquerdas e estabelecer pontes para um diálogo sem agendas escondidas”, elogia Alegre. Lembrando o declínio do socialismo democrático europeu de países de peso como a Alemanha, França e Inglaterra, que “não se tem mostrado capaz de dar uma resposta inovadora e convincente às causas da crise”, Alegre cita o jornalista, historiador e antigo sindicalista francês Jacques Julliard para explicar o avanço da direita. O socialismo deixou-se “colonizar pelo neo-liberalismo” e, ao mesmo tempo, as outras esquerdas continuam “a recusar a economia de mercado e permanecem barricadas no socialismo cro-magnon”.

Voltando às lições a tirar das eleições, “o mérito de António Costa e de Helena Roseta foi o de terem sido capazes de se ouvir, de falar e de encontrar uma solução que representou mais do que a soma entre o PS e os Cidadãos por Lisboa”, escreve o antigo deputado, acrescentando que a vitória desta coligação “merece ser meditada quer pelos que nela participaram quer pelos que decidiram ficar de fora”.

Esta edição especial da ops!, reúne textos de nomes como o politólogo André Freire, o professor e blogger Paulo Guinote, ex-reitor da Universidade do Porto e actual presidente da Agência de Avaliação do Ensino Superior Alberto Amaral, o economista José Castro Caldas e de Helena Roseta, já publicados em números anteriores. E entrevistas ao líder da CGTP-IN, Carvalho da Silva, ao presidente do Conselho de reitores, Fernando Seabra Santos, e ao presidente do Conselho Económico e Social e da Comissão Nacional Justiça e Paz, Alfredo Bruto da Costa.

O empresário Henrique Neto, que assina o posfácio, diz que a obra é “bem representativa da esquerda democrática” que não se identifica com PCP e Bloco de Esquerda, e “está, felizmente, longe da prática política, económica e social do Governo do PS”. Num texto em que deixa alertas sobre caminhos a seguir nas áreas laboral e empresarial, Henrique Neto afirma que a prioridade absoluta da governação deve ser a “eliminação da pobreza e da ignorância no tempo de uma geração. O papel da esquerda democrática, defende, é o de “privilegiar a inovação de novas formas de organização política, promover os valores da solidariedade e da ética” na política e “defender o equilíbrio entre o progresso económico e a resposta às necessidades sociais”.