Manuel José Godinho: de sucateiro pobre a discreto benemérito de Ovar
O empresário, de 55 anos, começou com um pequeno negócio de sucatas que herdou do pai. Primeiro em instalações de familiares, depois num pavilhão junto à Salvador Caetano de Ovar e, há pouco mais de um ano, transferiu-se para um moderno edifício instalado na zona industrial ovarense.
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O empresário, de 55 anos, começou com um pequeno negócio de sucatas que herdou do pai. Primeiro em instalações de familiares, depois num pavilhão junto à Salvador Caetano de Ovar e, há pouco mais de um ano, transferiu-se para um moderno edifício instalado na zona industrial ovarense.
Comprava frequentemente sucata à CP e era habitual deslocar-se com os seus funcionários às estações para transportar o material. Há mais de 15 anos, era um simples sucateiro, hoje tem um império em vários negócios que causa estranheza.
A sua ascensão começou com a recolha de sucata na limpeza dos terrenos da zona Oriental de Lisboa onde viria a ser construída a Expo ’98. Houve, no entanto, uma directiva comunitária que subitamente lhe abriu um novo mercado. Durante várias décadas, Godinho comprou a baixo custo as velhas travessas de madeira do caminho-de-ferro, que a União Europeia mais tarde viria a obrigar a tratar como matéria-prima secundária. O empresário passou, assim, a deter um mercado mais valorizado.
Godinho movia-se bem junto das chefias intermédias e do pessoal da fiscalização da Refer. O PÚBLICO apurou que eram frequentes os almoços entre o seu pessoal e o da Refer e que tentou, inclusive, contratar operários de via daquela empresa pública para trabalhar para ele nas horas de expediente da empresa e aos fins-de-semana em empreitadas ganhas à própria Refer.
Foi uma prática continuada deste tipo que levou ao despedimento por justa causa de um quadro da Refer do Alentejo que, hoje, trabalha para José Godinho. Quem o conhece assegura que é uma pessoa discreta e recatada. Levanta-se cedo para trabalhar, joga futebol com familiares, amigos e funcionários aos domingos de manhã num campo que tem numa das suas casas, e raramente nega contributos pedidos pelas instituições de Ovar.
Mas é ao futebol de Esmoriz que dedica mais atenção e mais dinheiro. Não perde um jogo em casa. “O Esmoriz sobrevive, há muitos anos, à custa do sr. Godinho, que é uma pessoa bondosa e fantástica em todos os aspectos”, garante Francisco Baptista, ex-treinador do clube e que lidou com o empresário durante 12 anos. “Ajuda as instituições de caridade e as pessoas mais carenciadas”, acrescenta. É sócio benemérito dos Bombeiros de Esmoriz e recentemente deu um donativo para a obra das piscinas da cidade. “Tem contribuído com todas as obras desportivas, culturais e humanitárias do concelho de Ovar”, adianta Jacinto Oliveira, comandante dos bombeiros esmorizenses.
Manuel Oliveira Dias, provedor da Misericórdia de Ovar, confirma a dedicação do empresário. “É uma pessoa que mostra receptividade em colaborar com as instituições, com um bom relacionamento social e que procura ser discreto na forma de ajudar”, comenta.
Os carros topo de gama e as várias casas que possui são os sinais exteriores de riqueza mais evidentes. Também é público que anda armado. Os dois filhos, de 31 e 26 anos, trabalham nas suas empresas.
Em Junho passado, Godinho foi constituído arguido num processo de suspeita de fraude fiscal, através da emissão de facturas falsas, na ordem dos 11,6 milhões de euros. Ontem, a empresa de Ovar funcionou normalmente, mas ninguém esteve disponível para prestar declarações, tal como os elementos do clube de futebol que se juntaram para mais um treino. Da parte de fora do estádio, um dos cartazes dos patrocinadores pertence obviamente a uma das empresas de Godinho: à O2 Tratamento e Limpezas Ambientais, SA.