População em choque com morte do "bruxo" de Rio de Moinhos

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Conhecido "vidente", assassinado, "tinha fama até Setúbal" Adriano Miranda

Eram oito da manhã e Agostinho Moreira, de 57 anos e corpo de impor respeito, não estava sentado na pedra da esquina entre o caminho da povoação e o terreno da sua casa. Esperava ali todos os dias pelo vendedor da fruta e pelo padeiro. E foi Manuel Fernandes, de 35 anos, dez deles passados na padaria Flor do Tâmega, quem o encontrou sem vida. Ia ali todos os dias entregar uma dúzia de pães e quatro iogurtes.

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Eram oito da manhã e Agostinho Moreira, de 57 anos e corpo de impor respeito, não estava sentado na pedra da esquina entre o caminho da povoação e o terreno da sua casa. Esperava ali todos os dias pelo vendedor da fruta e pelo padeiro. E foi Manuel Fernandes, de 35 anos, dez deles passados na padaria Flor do Tâmega, quem o encontrou sem vida. Ia ali todos os dias entregar uma dúzia de pães e quatro iogurtes.

"Buzinei, mas nunca mais vinha ninguém. Pensei que estivesse doente e peguei no saco para lho deixar à porta", explica o padeiro. Decidiu-se a atravessar o caminho de terra forrado a videiras e encontrou o corpo do "bruxo" seminu e ensanguentado na entrada da casa onde viveu toda a vida.

Manuel deu meia volta e bateu à porta da primeira casa que encontrou. Ainda desejou que, ao voltar, já acompanhado por uma vizinha, visse Agostinho Moreira a levantar-se. Esconde o olhar azul e conta: "Eu não queria acreditar, mas confirmámos que estava morto." Chamou os bombeiros e, como o trabalho "não podia esperar", pediu a outro vizinho que tomasse conta da situação.

Quando saiu, o padeiro não sabia que na casa estava Manuel Moreira, de 62 anos, irmão mais velho do "vidente" de Rio de Moinhos. Também tinha sido agredido, mas ainda estava vivo quando foi levado para o hospital. A povoação, mal refeita do choque, tenta uma explicação que lhes sai unânime. "Falava-se que eles tinham dinheiro. Deve ter sido esse o caso", arrisca António Soares, vizinho próximo, nos 40 anos que leva de vida. Na porta acima, Conceição Sousa confirma: "Eles ainda eram daquelas pessoas que achavam que o dinheiro estava mais seguro em casa do que no banco."

Para quem os conhecia, não haveria outro motivo para alguém agredir os dois irmãos durante a madrugada. António Moreira, irmão do meio de Agostinho e Manuel, não falava com os familiares há dois meses, mas confia que estavam bem. "Não se metiam com ninguém. Faziam a vida deles por casa", garante.

Fora de casa, só eram vistos quando iam à missa, sempre juntos. "Eram muito católicos", assegura António Oliveira, carteiro durante 40 anos na freguesia.

Tinham um quarto todo cheio de santos. Era aí que Agostinho "fazia as rezas" e "curava" os que o vinham procurar. "Aparecia gente de muito longe e ele foi resolvendo os problemas de muitas pessoas. Foi assim que ganhou fama", explica Maria Cancela, prima do "curandeiro".

As "consultas" não custavam dinheiro, mas havia sempre quem deixasse "uns contos" à saída. Chamavam-lhe "bruxo", "vidente", "curandeiro". Mas tudo o que fazia, garante Maria, "era em nome de Deus".

Notícia actualizada às 10h24 de dia 23