A angústia do treinador no momento do despedimento
Impõe-se a precisão: o United do título é bem um clube de futebol, mas não o Manchester United; antes o Leeds United, força dominante do futebol britânico na passagem dos anos 1960 para os anos 1970. E sim, este é um filme sobre futebol, mas não sobre o jogo em si, antes sobre a ambição e os jogos de poder que o rodeiam, consubstanciado na história verídica do treinador Brian Clough, que elevou, em 1973, o Derby County, pequeno clube regional, à primeira divisão para logo a seguir se "estampar" ao tomar os controles do Leeds.
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Impõe-se a precisão: o United do título é bem um clube de futebol, mas não o Manchester United; antes o Leeds United, força dominante do futebol britânico na passagem dos anos 1960 para os anos 1970. E sim, este é um filme sobre futebol, mas não sobre o jogo em si, antes sobre a ambição e os jogos de poder que o rodeiam, consubstanciado na história verídica do treinador Brian Clough, que elevou, em 1973, o Derby County, pequeno clube regional, à primeira divisão para logo a seguir se "estampar" ao tomar os controles do Leeds.
Quem conhece o universo do argumentista Peter Morgan, responsável por "A Rainha", "O Último Rei da Escócia" ou "Frost/Nixon", irá reconhecê-lo nesta fita incisiva mas bem-humorada que o guionista adaptou do romance (ficcional, mas inspirado por personagens e factos reais) do escritor David Peace. É a história de um homem embriagado pelo sucesso, que deixa a sua ambição transportá-lo para estratosferas rarefeitas onde talvez não esteja preparado para sobreviver ao mesmo tempo que volta as costas àqueles que realmente o apreciam, cruzando com elegância as esferas progressivamente mais inseparáveis do público e do pessoal. Mas que, ao mesmo tempo, faz um retrato certeiro da Inglaterra dos anos 1970, desenhando em meia-dúzia de pormenores atentos que facilmente passam despercebidos um espírito de época, recordando o ponto exacto em que o futebol iniciou a transição em direcção à bem oleada máquina contemporânea de fazer dinheiro, no caminho da mediatização extrema do desporto-rei.
Como em qualquer história inglesa, tudo gira à volta da classe social, do modo como a ambição de Clough é propulsionada pela necessidade de se provar digno de respeito - embora talvez não do modo que todos esperariam. "Maldito United" é também mais uma lição do "savoir-faire" inglês, desde a excelência discreta dos actores (com óbvio destaque para Michael Sheen e o "habitué" de Mike Leigh Timothy Spall) ao rigor da reconstituição histórica. É verdade que isso também se pode dizer de qualquer telefilme britânico e é verdade que a dimensão caseirinha de "Maldito United" provavelmente era mais apropriada para o pequeno écrã. Mas isso é esquecer que um telefilme inglês tem muitas vezes mais cinema em cinco minutos que 90 por centro da produção corrente americana. Ainda por cima, Tom Hooper, veterano televisivo a assinar a sua primeira longa para cinema, injecta uma série de pormenores atipicamente lúdicos, uma liberdade formal (do grão da fotografia às perspectivas forçadas) que troca as voltas de modo inteligente e subversivo os lugares-comuns do "realismo social". O que faz todo o sentido num filme sobre o arrivismo e a ambição - só é mesmo pena que Hooper termine "Maldito United" com imagens de arquivo que vêm desnecessariamente minimizar as performances dos seus actores ao apontar as diferenças físicas entre alguns deles, mas insuficientes para macular o que ficou para trás.
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