Nick Cave & Warren Ellis
Nick Cave tem composto bandas-sonoras para cinema com regularidade, sempre ao lado de Warren Ellis, o violinista dos magníficos Dirty Three e membro dos Bad Seeds. Do total que o duo criou faz-se agora uma espécie de "Best of", reunido em duplo CD. No primeiro, diz Cave, estão faixas seleccionadas de "A Proposta", de "O Assassinato de Jesse James pelo cobarde Robert Ford" e de "The Road", adaptação do livro de Cormac McCarthy. No segundo, assinala, estará o material mais experimental. É uma falácia: há mais experimentação, mais aspereza no que ficou de fora da BSO de "A Proposta" que em qualquer uma das faixas aqui reunidas. As que pertencem a "O Assassinato de Jesse James..." são eminentemente contemplativas, o que parece apropriado a um western existencial: há melodias ao xilofone repetitivas, guitarras acústicas a rasar a angústia dobradas por pianos e oboés melancólicos (em "Moving on"), motivos ao piano.
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Nick Cave tem composto bandas-sonoras para cinema com regularidade, sempre ao lado de Warren Ellis, o violinista dos magníficos Dirty Three e membro dos Bad Seeds. Do total que o duo criou faz-se agora uma espécie de "Best of", reunido em duplo CD. No primeiro, diz Cave, estão faixas seleccionadas de "A Proposta", de "O Assassinato de Jesse James pelo cobarde Robert Ford" e de "The Road", adaptação do livro de Cormac McCarthy. No segundo, assinala, estará o material mais experimental. É uma falácia: há mais experimentação, mais aspereza no que ficou de fora da BSO de "A Proposta" que em qualquer uma das faixas aqui reunidas. As que pertencem a "O Assassinato de Jesse James..." são eminentemente contemplativas, o que parece apropriado a um western existencial: há melodias ao xilofone repetitivas, guitarras acústicas a rasar a angústia dobradas por pianos e oboés melancólicos (em "Moving on"), motivos ao piano.
O material que vem de "A Proposta" tem maior pendor do violino de Ellis que, em "Happy land", executa uma lenta descida ao negro antes de dar lugar a figuras de guitarra que evocam placidez. Estas são as faixas em que mais se rumina numa ideia de perigo, o que é notório na tensão de "The Proposition nº 1". O material que vem de "The Road" é demasiado atmosférico. Em "The Road" há uma melodia ao piano, à Satie, com minúsculas ascensões e um violino em contra-ponto, em "The Father" temos mais atmosfera que música.
Tudo junto acaba por haver uma espécie de "integridade": a lentidão, o carácter contemplativo, uma propensão para sombras ténues, o que o torna um bom disco para pessoas deprimidas acompanharem tardes chuvosas de domingo enquanto ruminam em mais uma ou outra amargura. No segundo álbum reúnem-se as BSOs de "The Girls of Phnom Penh", "The English Surgeon" e algumas faixas por editar. A vantagem de haver este segundo CD é permitir que reparemos na repetição dos motivos melódicos - algures entre o western com xanax e a canção tradicional irlandesa moribunda e agonizante. Se já faz pouco sentido editar uma BSO - música feita para pontuar cenas, para exacerbar uma ou outra emoção representadas na tela - menos ainda faz editar um "Melhor de" que retalha as bandas-sonoras, retirando às faixas de cada disco o fio que as unia. Mais vale ficar só pela BSO completa de "A Proposta".