Morreu Isabel Alves Costa
A programadora Isabel Alves Costa (1946-2009), primeira e última directora artística do Rivoli Teatro Municipal, no Porto, morreu ontem na sua casa de férias, em Monção, vítima de doença súbita. Filha de Henrique Alves Costa, histórico director do Cineclube do Porto e figura determinante na divulgação do cinema em Portugal entre as décadas de 50 e 70, e irmã do arquitecto Alexandre Alves Costa, Isabel Alves Costa teve um papel fundamental na estruturação da vida cultural do Porto durante a década de 90 e foi uma das programadoras mais activas do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, como responsável pela área das artes do palco.
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A programadora Isabel Alves Costa (1946-2009), primeira e última directora artística do Rivoli Teatro Municipal, no Porto, morreu ontem na sua casa de férias, em Monção, vítima de doença súbita. Filha de Henrique Alves Costa, histórico director do Cineclube do Porto e figura determinante na divulgação do cinema em Portugal entre as décadas de 50 e 70, e irmã do arquitecto Alexandre Alves Costa, Isabel Alves Costa teve um papel fundamental na estruturação da vida cultural do Porto durante a década de 90 e foi uma das programadoras mais activas do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, como responsável pela área das artes do palco.
O Governo francês atribuiu-lhe a medalha de Chevalier des Arts et des Lettres em 2006 - foi estudar para Paris em 1963 e regressou em 1997 à Sorbonne para se doutorar em estudos teatrais. O Rivoli, que dirigiu desde a reabertura como teatro municipal, em 1993, até à entrega do equipamento a Filipe La Féria por iniciativa de Rui Rio, em 2007, foi a sua grande aventura pública e pessoal. Durante os anos em que esteve à frente do teatro, Isabel Alves Costa transformou-o na sala de espectáculos de referência da cidade, sobretudo nas áreas da dança e do novo circo.
O processo que terminou com a concessão do Rivoli a um privado (e que Alves Costa descreve minuciosamente em "Rivoli 1989-2006", o livro com que pôs um ponto final nesse capítulo) debilitou-a profundamente, mesmo a nível físico, como explicou ao PÚBLICO na primeira entrevista que aceitou dar sobre esse assunto, em Setembro do ano passado: "[Foi] muitíssimo sofrido. As pessoas não têm noção de como estas coisas nos marcam o corpo. Eu tenho tido, desde que saí do teatro, uma série de problemas que, dizem-me os médicos, resultam dos últimos anos do Rivoli. Tenho de virar muitas páginas para o meu corpo voltar a ter um funcionamento mais ou menos normal."
Foi virar essas páginas ali ao lado, como directora do Festival Internacional de Marionetas do Porto, que ela própria fundou em 1989 e que nos últimos anos se realizou mesmo em frente ao Rivoli, na Praça D. João I, e também para o Alto Minho, onde em 2005 assumiu o acompanhamento artístico da companhia de teatro Comédias do Minho, um projecto único no país pela sua relação de igual para igual com o território.
João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, destacou ao PÚBLICO justamente a necessidade que Isabel Alves Costa tinha de "partilhar o conhecimento com a comunidade": "Sempre tive pena que a cidade não soubesse aproveitar o muito que a Isabel tinha para oferecer", diz, realçando o contributo que Isabel Alves Costa deu nestes últimos anos como consultora para os eventos de teatro de rua e novo circo do Serralves em Festa. Pessoalmente, acrescenta, "Isabel vai fazer falta aos amigos, nas tertúlias, com o seu sentido crítico sobre a cidade, o país e o mundo".
"Era uma mulher de esquerda com uma visão humanista do papel das artes", continua Madalena Victorino, que trabalhou intensivamente com Isabel Alves Costa nos primeiros meses deste ano, depois de esta a convidar para um projecto de imersão com as Comédias do Minho que resultou na peça Contra-Bando. "Fez um trabalho extraordinário no Rivoli e um trabalho sistemático e pioneiro com o Festival Internacional de Marionetas do Porto, para além de ser uma referência relativamente ao conhecimento teatral", frisa.
A ex-vereadora da Cultura do PS, Manuela de Melo, que a chamou para dirigir o Rivoli e pivotar a reconstrução de uma política cultural para a cidade, sublinha ainda o modo como o seu projecto de programação para o espaço serviu de modelo para outros teatros municipais do país. "Fazia muito da profissão a sua própria vida", resume. É uma outra maneira de dizer que a profissão - e sobretudo o Rivoli - lhe saiu do corpo.O funeral de Isabel Alves Costa realiza-se amanhã no Porto, em hora e local a determinar.