Angélica Liddell e Jacqueline Du Pré entre a vida e a morte

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É um encontro entre duas artistas. Uma é Angélica Liddell, encenadora, actriz e dramaturga que volta a rumar de Madrid até Montemor-o-Velho para participar em mais uma edição do Citemor. A outra já não está viva. É Jacqueline Du Pré, violoncelista inglesa que morreu aos 42 anos, a idade que Angélica Lidell tem hoje. As duas encontram-se esta noite em palco. Angélica Liddell andou à procura de Jacqueline Du Pré pelo mundo dos mortos. Durante essa busca, um médium até lhe disse que eram a mesma pessoa.

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É um encontro entre duas artistas. Uma é Angélica Liddell, encenadora, actriz e dramaturga que volta a rumar de Madrid até Montemor-o-Velho para participar em mais uma edição do Citemor. A outra já não está viva. É Jacqueline Du Pré, violoncelista inglesa que morreu aos 42 anos, a idade que Angélica Lidell tem hoje. As duas encontram-se esta noite em palco. Angélica Liddell andou à procura de Jacqueline Du Pré pelo mundo dos mortos. Durante essa busca, um médium até lhe disse que eram a mesma pessoa.

Já em "Boxeo para Células y Planetas", que levou no ano passado a Montemor-o-Velho, a artista catalã falava de doença, de morte, de melancolia e de Jacqueline Du Pré. A música que a impressiona desde nova e, depois, todo o trajecto de uma violoncelista a quem foi diagnosticada esclerose múltipla.

"Jacqueline Du Pré encarna bem o conflito entre a matéria e o espírito. Foi uma das melhores violoncelistas do mundo e, de repente, o corpo pode acabar com essa vontade. É um conflito que começa a preocupar-me, agora, que tenho mais consciência da passagem do tempo, consciência de outras coisas que em jovem não tinha. Começo a reflectir sobre a doença, sobre o corpo", diz.

Angélica Liddell tem um medo terrível da morte. "Só de me pôr nessa situação, bloqueio imediatamente. Também tenho medo da doença com dor... Este espectáculo propõe uma equivalência entre a derrota de Jacqueline Du Pré e a minha própria derrota espiritual, actual. É uma obra sobre a dor", acrescenta.

"Te Haré Invencible com Mi Derrota" não foi criado num espaço convencional de teatro, mas sim num armazém. O ponto de encontro é, porém, no Teatro Esther de Carvalho. O público é, depois, transportado de autocarro até ao local do espectáculo. Um amplo armazém no qual Angélica Liddell gostou "muitíssimo" de trabalhar. É ali que a vemos a tocar furiosamente, sempre de cigarro na boca, num dos violoncelos, a cuspir para cima dele. A espalhar flores pelos braços, e também a espetar agulhas na mão. "Creio que o corpo produz a verdade de alguma maneira. Trabalhar com o corpo também é uma questão espiritual e estética. Os cortes, o sangue... a pele para expressar as perturbações do espírito. Ando a explorar essa estética, do sangue, que, mais do que mostrar algo superficial, mostra as perturbações mais profundas do espírito", diz. No cenário, um poster de Jacqueline Du Pré. E sempre a música.

A criação de Angélica Liddell abre o 31º Citemor, festival que se prolonga até 15 de Agosto, com propostas que atravessam várias linguagens artísticas e que vão decorrer em diferentes espaços da vila. Para além da residência artística durante a qual Angélica Liddell criou "Te Haré Invencible com Mi Derrota", destaca-se também a estreia de "Pigmeus do Mondego", de Nilo Gallego.

"Há uma diversidade muito grande de linguagens, de dramaturgias", diz o director Armando Valente, notando que o programa inclui teatro, vídeo, dança, e música. Hoje, é inaugurada também, na Galeria Municipal, a instalação "Video 2001-2007, #1", de José Maçãs de Carvalho.