Quem são os uigures? O que está por trás das tensões em Xinjiang?

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Rebiya Kadeer, um dos principais rostos da luta uigure Tobias Schwarz/Reuters

Quem são os uigures?
São muçulmanos cuja língua é de origem turca e que usam o alfabeto árabe. Consideram-se cultural e etnicamente mais próximos dos países da Ásia Central, e vivem sobretudo em Xinjiang, a província do Noroeste da China, oficialmente chamada de Região Autónoma Uigur. São uma das 55 minorias chinesas, que formam nove por cento da população (os restantes 91% são da etnia han). Apesar de ainda maioritários em Xinjiang (oito milhões), a política de “hanização” da região, levada a cabo pelo Governo central, faz com que os han sejam largamente maioritários em Urumqi, a capital da região, onde os uigures são apenas oito por cento da população.

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Quem são os uigures?
São muçulmanos cuja língua é de origem turca e que usam o alfabeto árabe. Consideram-se cultural e etnicamente mais próximos dos países da Ásia Central, e vivem sobretudo em Xinjiang, a província do Noroeste da China, oficialmente chamada de Região Autónoma Uigur. São uma das 55 minorias chinesas, que formam nove por cento da população (os restantes 91% são da etnia han). Apesar de ainda maioritários em Xinjiang (oito milhões), a política de “hanização” da região, levada a cabo pelo Governo central, faz com que os han sejam largamente maioritários em Urumqi, a capital da região, onde os uigures são apenas oito por cento da população.

Tensões étnicas são recentes?
Não. Há muito que os uigures se queixam de ser discriminados no trabalho e na educação e acusam o Governo de não respeitar o que a Constituição lhes garante. “A autonomia só está no papel. Não existe na prática”, denuncia ao PÚBLICO Dolkun Isa, secretário-geral do World Uyghur Congress, a organização com sede em Munique, que Pequim diz estar por trás dos distúrbios. “Por exemplo, a lei da autonomia determina que a língua uigur é oficial, mas foi proibida em 2003 nas universidades, em 2004 nos liceus e desde 2006 nos jardins- -de-infância”, continua. Isa dá outro exemplo: “A Constituição chinesa garante o direito de acreditar em qualquer religião, mas em Xinjiang proíbem mulheres, trabalhadores [estatais] e menores de 18 de irem à mesquita e jejuar durante o Ramadão”. Depois de anos de abandono, Pequim tem canalizado mais recursos para a região de forma a apaziguar as reivindicações independentistas e diminuir as disparidades sociais. “Uma das grandes causas de descontentamento em Xinjiang é o ainda grande fosso económico entre os han e os uigures”, comenta à Reuters Barry Sautman, especialista em política étnica chinesa da Universidade de Ciência e de Tecnologia de Hong Kong.

A região já foi independente?
Em 1933 foi declarada unilateralmente a independência da chamada República do Turquistão Oriental. Mas a vitória das forças comunistas na guerra civil, em 1949, resultou na entrada do Exército Popular na região. Muitos uigures partiram para o exílio. Foi restringida a liberdade religiosa e muitos dos costumes uigures foram sendo atacados.

Há movimentos terroristas?
De vez em quando, as autoridades de Pequim noticiam tentativas de atentado por parte de extremistas uigures, como aconteceu na véspera dos Jogos Olímpicos de 2008. Nunca ocorreu um grande atentado, nem distúrbios com esta violência. Mas ainda assim foi lançada uma grande operação contra o Movimento Islâmico do Turquistão Oriental (ETIM), que o regime conseguiu que fosse incluído na lista de grupos terroristas das Nações Unidas e dos Estados Unidos. Após o 11 de Setembro, Pequim disse que os separatistas estão ligados à Al-Qaeda, mas não há provas disso.

Existem ligações ao Tibete?
Foi a própria agência oficial chinesa, a Xinhua, que comparou os distúrbios em Xinjiang com os que, em Março do ano passado, deixaram pelo menos 19 mortos em Lhasa, a capital tibetana. “Há grandes paralelismos com o que aconteceu no Tibete... O Governo começou a aplicar a mesma grelha de leitura”, disse à Reuters Nicholas Bequelin, da Human Rights Watch em Hong Kong. “Ou seja, que as causas deste acontecimento devem-se a um golpe de forças estrangeiras com um exilado à cabeça, e que a culpa está totalmente nos manifestantes”.

A abordagem às minorias
Em 18 meses, registaram-se confrontos importantes no Tibete e em Xinjiang, ambas regiões autónomas. Mas os distúrbios tanto servirão como argumento dos que defendem uma abordagem mais dura, como dos que lutam pela reconciliação, diz ainda Sautman. “Cada vez que há incidentes étnicos, duas abordagens seguem caminhos paralelos”, afirma. “Há pessoas a dizer: ‘Temos que pensar em mudar de política’ e há pessoas que dizem ‘temos de ser mais eficazes na caça aos separatistas'”. Nenhuma das posições é ouvida no exterior, porque o debate não extravasa as paredes do partido.