Sócrates vai três vezes à Assembleia da República nos próximos 15 dias

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Sócrates não deverá fazer alterações substanciais na sua estratégia e projecto de governação Luís Efigénio/NFactos

Depois de oito dias de descanso pós-eleitoral e de uma derrota difícil de digerir - o PS perdeu as europeias com 26,58 por cento dos votos, contra 31,7 por cento do PSD -, Sócrates arranca para a próxima maratona eleitoral com 15 dias infernais de actividade político-partidária que o obrigam a enfrentar por três vezes no Parlamento as críticas e os ataques da oposição.

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Depois de oito dias de descanso pós-eleitoral e de uma derrota difícil de digerir - o PS perdeu as europeias com 26,58 por cento dos votos, contra 31,7 por cento do PSD -, Sócrates arranca para a próxima maratona eleitoral com 15 dias infernais de actividade político-partidária que o obrigam a enfrentar por três vezes no Parlamento as críticas e os ataques da oposição.

Já amanhã à noite, irá reflectir com a comissão política dos socialistas, em Lisboa, sobre a realidade actual e o quadro político criado pelo resultado das europeias. Mas não são expectáveis nem grandes críticas a José Sócrates nem que o líder do PS anuncie qualquer inflexão de estratégia política. Aliás, no discurso em que assumiu a derrota, no domingo à noite, Sócrates afirmou isso mesmo. E o seu número dois no Governo, Pedro Silva Pereira, frisando que as eleições foram europeias, declarou: "O Governo mantém intacta toda a sua legitimidade para governar, está a aplicar o seu programa e está mandatado democraticamente pelos portugueses."

Sem sobressaltos no Rato

É natural que na reunião marcada para a sede do PS no Rato a direcção socialista venha a reconhecer erros de comunicação com o eleitorado mas, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, José Sócrates não vai fazer alterações substanciais na sua estratégia e projecto de governação. Tanto mais que, de acordo com os dirigentes socialistas contactados pelo PÚBLICO, não faz sentido mudar, a dois ou três meses das legislativas, um caminho seguido durante mais de quatro anos.

O PS irá agora focar-se nas legislativas e preparar a próxima campanha, que deverá estar pronta para ir para a estrada em finais de Agosto. Isto porque se confirma que o PS não quer juntar as legislativas e as autárquicas.

E os socialistas estão apostados em que as legislativas sejam mesmo em Setembro, até porque, confessam alguns dirigentes, o PS sairá penalizado de um excessivo prolongamento deste período pré-eleitoral. Há mesmo quem aponte que a tendência para o aumento do desemprego poderá custar ainda mais votos a José Sócrates se as legislativas demorarem muito.

Por outro lado, não se esperam grandes críticas ao líder movidas pelos dirigentes do PS, para mais num momento em que estão ainda a ser elaboradas as listas eleitorais para as legislativas e as autárquicas.

As principais vozes críticas do PS já se manifestaram. Manuel Alegre declarou que as europeias "indiciam um voto de protesto e uma vontade de mudança". E João Cravinho, contundente, defendeu que "Sócrates sozinho já não chega" e que o líder do PS "tem de estar com mais alguém, vários que dêem a noção de que a política que se vai seguir na próxima legislatura não é a política de um homem só".

Três vezes no Parlamento

As restantes críticas que se fizeram ouvir foram mais suaves. António José Seguro limitou-se a afirmar: "É preciso compreender e ler os resultados com muita humildade. É preciso efectuar uma reflexão serena e tranquila, com cabeça fria, e é preciso que, todos juntos, possamos trabalhar mais e melhor para vencer as eleições do Outono".

Neste arranque para a maratona eleitoral de legislativas e autárquicas, José Sócrates terá mesmo assim vários outros obstáculos antes de entrar de férias e de se lançar no sprint final eleitoral em Setembro.

Já amanhã, o primeiro-ministro irá ter também de enfrentar os seus adversários políticos, ainda que os temas em agenda nas reuniões não sejam propriamente as eleições. Assim, tem uma reunião do Conselho de Estado sobre o Afeganistão e a reunião semanal com o Presidente da República, que esta semana é antecipada por causa do Conselho Europeu das próximas quinta e sexta-feira. O Conselho Europeu de dias 18 e 19 de Junho invade também o dia de amanhã do primeiro-ministro, obrigando-o a um primeiro encontro com as oposições, quando Sócrates receber os partidos políticos para as habituais audiências que antecedem os conclaves europeus.

Quarta-feira enfrenta a moção de censura que lhe é movida pelo CDS e em que o PSD poderá votar ao lado do partido de Paulo Portas. Nesse debate - em que Paulo Rangel, o cabeça-de-lista do PSD nas europeias, regressa ao Parlamento nacional em estado de graça e para se despedir antes de partir para o hemiciclo de Estrasburgo -, é esperado que a oposição tente afogar o primeiro-ministro em críticas e pressões para mudar de estratégia, por exemplo, quanto aos grandes empreendimentos como o TGV.

Uma semana depois, a 24 de Junho, José Sócrates será sujeito à mesma barragem de fogo parlamentar, a propósito do debate quinzenal dos deputados com o primeiro-ministro. Uma situação que se repetirá na semana seguinte, na quinta-feira, 2 de Julho, com o debate sobre o Estado da Nação, que encerra formalmente a legislatura.