Banksy versus Bristol, num museu perto de casa (será?)
O título é sugestivo e espelha a dualidade dos critérios, da aceitação da arte de rua, da sua natureza anti-establishment e do seu lugar (ou não) dentro de um museu: "Banksy versus Bristol Museum".
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O título é sugestivo e espelha a dualidade dos critérios, da aceitação da arte de rua, da sua natureza anti-establishment e do seu lugar (ou não) dentro de um museu: "Banksy versus Bristol Museum".
“Esta é a primeira exposição que alguma vez fiz em que o dinheiro dos contribuintes está a ser usado para pendurar as minhas imagens em vez de ser para as limpar”, comentou Banksy em declarações à BBC. Sempre sem revelar a sua verdadeira identidade, por óbvias questões legais para quem pinta (n)a rua.
A mostra hoje inaugurada, de entrada gratuita e que estará no City Museum and Art Gallery até ao final de Agosto, contém cerca de cem peças do artista, 70 das quais inéditos. Pinturas, instalações, espaços com animatronics (marionetas e bonecos animados por robótica) e peças sensoriais. Esta é a primeira mostra de Banksy num espaço fechado desde 2000.
Além das mensagens e afirmações políticas (mais ou menos evidentes) de Banksy em cada peça – a carrinha de gelados incinerada, coberta de graffiti e com um polícia de motins com uma identificação em que “Police” é substituído por “Peace”, a galinha e seus pintos vigiados por câmaras de circuito fechado, a estátua do leão que devorou o seu domador – "Banksy v Bristol Museum" tem uma história própria. Kate Brindley, a directora do museu, uma das pouquíssimas pessoas que sabia (desde Outubro) qual a mostra que iria ocupar o seu Verão, nunca conheceu Banksy. “Ele esteve aqui, conhece bastante bem o museu”, mas “nunca o conhecemos”, explicou à BBC. “E isso é parte do charme da exposição”.
“Penso que se calhar os obrigámos a descer ao nosso nível ao invés de termos sido elevados ao nível deles”, ironizou Bansky, referindo-se aos métodos de montagem da exposição, mas talvez também à própria duplicidade que envolve a presença da street art no circuito tradicional dos museus. Nos últimos dias, sempre com a autarquia às escuras quanto à exposição que iria estar no museu que financia, a vasta equipa de Banksy ocupou as salas do museu. Aos empregados e aos visitantes dizia-se apenas que decorriam filmagens no local.
Banksy deixa então lastro pelas salas do museu municipal, com obras suas a espreitar entre as do espólio mais convencional. Faz lembrar um dos seus actos mais famosos: em 2003 introduziu um trabalho seu nas paredes da galeria Tate Britain, em Londres. Ficou lá durante horas, sem que se estranhasse a sua presença. No Louvre, em Paris, colocou uma Mona Lisa “Banksy” nas imediações do original.
Kate Brindley assume que a escolha de Banksy e da sua cultura street para o Verão do City Museum pode ser “controversa”. “Mas a arte é isso”. E também é buzz. Desde sexta-feira, quando foi revelada a presença de Banksy no museu de Bristol, a atenção dos media foi grande. “Toda a gente presumia que [a nova exposição de Banksy] seria em Los Angeles, em Nova Iorque, em Londres, mas ele insistiu que viesse para Bristol... é só ele a voltar a casa”, comentou o vereador de Cultura de Bristol, Simon Cook, à Reuters. Mas a verdade é que, não se sabendo a identidade do street artist, não se pode estar seguro de que ele é, de facto, natural de Bristol...
Banksy começou a trabalhar no início da década de 1990 e diz que esta exposição é a sua visão do futuro. Com o seu trabalho cobiçado pelas estrelas (Pitt, Jolie, Aguilera) e a render centenas de milhares de euros em leilão depois de ter sido “salvo” das ruas e das equipas de limpeza de graffiti, um dos seus statements mais conhecidos (para além das ratazanas stencil) foi a introdução de uma figura insuflável, em tamanho real, de um detido de Guantánamo na Disneylândia.