João Pedro Rodrigues roda “Morrer como um homem”
A morte há-de libertá-los, mas não os separa. "Morrer como um Homem", a longa-metragem que João Pedro Rodrigues começa a rodar a 11 de Agosto em Lisboa, é a "love story" (podíamos acrescentar, como nos anteriores filmes do realizador: demencial) de um transexual e do seu companheiro mais novo que viveram como mulher e marido e foram enterrados juntos como dois homens.
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A morte há-de libertá-los, mas não os separa. "Morrer como um Homem", a longa-metragem que João Pedro Rodrigues começa a rodar a 11 de Agosto em Lisboa, é a "love story" (podíamos acrescentar, como nos anteriores filmes do realizador: demencial) de um transexual e do seu companheiro mais novo que viveram como mulher e marido e foram enterrados juntos como dois homens.
Se a história soa familiar é porque ela já veio nos jornais há uns anos e porque também inspirou um romance de António Lobo Antunes, "Que Farei Quando Tudo Arde". A vida de Ruth Bryden, uma das figuras mais conhecidas do espectáculo de travestis lisboeta, revelou-se fonte de fascínio, sobretudo depois da sua morte, em 1999. Nasceu homem, tentou viver como mulher, recorrendo à cirurgia plástica, morreu como nascera - a lápide não mente: Joaquim Centúrio de Almeida.
O companheiro de há nove anos, que a acompanhou dedicadamente durante a doença, desapareceu nos dias finais de Bryden. Encontraram o seu corpo na duna de uma praia. Foi o ponto de partida de "Morrer como um Homem", cujo argumento começou a ser escrito com Rui Catalão, autor de um artigo postmortem sobre Ruth Bryden na revista "Pública" em 1999 (Catalão foi co-argumentista do último filme de Jorge Cramez, "O Capacete Dourado"). Mas João Pedro Rodrigues, 41 anos, faz questão de dizer que "se afastou completamente" do caso Bryden e que "Morrer como um Homem" não será nem "biopic" nem "uma história romanceada da sua vida".
Quando preparava o argumento, o realizador entrevistou e recolheu testemunhos de transexuais, travestis, e outras pessoas conhecedoras do meio que, "em conjunto com a história fundadora" de Bryden, lhe permitiram inventar a sua personagem. Que personagem? Tonia, "fulgurante ícone da noite lisboeta" (estamos a ler a nota de intenções do realizador), que tenta apagar "progressivamente todos os vestígios da sua identidade masculina original". As personagens dos filmes de Rodrigues ("O Fantasma", "Odete") vão onde for preciso para impor aos outros o seu imaginário (também se podia dizer: o seu desejo).
Mas em "Morrer como um Homem", ele nunca chega a ser inteiramente ela: a transformação de Tonia não é concluída... Fernando Santos, transformista do bar lisboeta Finalmente, onde interpreta a personagem Deborah Kristal, será o protagonista. Foi anunciado, a semana passada, que o filme de Rodrigues é uma das 12 coproduções europeias (entre 29 candidatos) financiadas pelo fundo europeu Eurimages. No caso de "Morrer como um homem", o valor é de 240 mil euros.