Crise
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Pode parecer catastrofista para uns ou ingénuo para outros, mas esta alegoria bailava no pensamento depois de ler muitas das análises que cerca de meia centena de académicos, empresários e consultores fizeram da crise económica mundial. Ou seja, os instintos mais predadores andaram à solta e agora é preciso voltar aos valores basilares e implementar um novo paradigma que nos salve desta terrível (e de consequências ainda imprevisíveis) tempestade.
Este livro é composto por pequenas análises (no final das quais há umas convenientes linhas para notas) que não estão agrupadas em capítulos ou qualquer enquadramento sub-temático, mas é possível descortinar informalmente três tipos de abordagens: diagnóstico, soluções a curto prazo, modelo para o futuro. Alguns textos incidem mais profundamente num destes ângulos, outros abarcam mais superficialmente dois ou três.
Apesar dos matizes ideológicos e geracionais que fazem a heterogeneidade dos autores, sobressai uma unânime identificação dos “culpados” na pele dos ultraliberais que fizeram da ganância um modo de vida e dos reguladores que por omissão os deixaram galopar desenfreadamente. As soluções a curto e médio prazo passam pela intervenção do Estado para pôr cobro ao descalabro, apesar dos fantasmas do défice orçamental, dívida pública e deflação poderem atormentar as gerações vindouras. Finalmente, o modelo para o futuro passa pelo regresso aos valores da ética, do altruísmo, do respeito pela natureza finita e pelo nosso semelhante.
O gestor António Miguel Gonçalves advoga que se volte a viver do que se produz e não da dívida, com mais regulação estatal porque o “capitalismo tem de se purificar”. Uma ideia partilhada por Maria Isabel Jonet, que trabalha na área da responsabilidade social e que espera “uma recusa ao facilitismo” e um “regresso às essências das coisas”, contra os excessos do consumo e do imediatismo. Tal como Jonet, que alertou para o “potencial de fricção social” por causa do aumento da pobreza, Fernando Nobre – também da área do voluntariado – considera ser vital que a crise conduza a um reforço da “Cidadania Global Solidária” porque o desemprego, a exclusão social e a fome ameaçam a “paz social e a democracia”.
Além do regresso à ética, muitos das reflexões propõe uma aposta no modelo de conhecimento, investindo nas novas tecnologias e numa gestão sustentável dos recursos naturais. O bastonário dos Economistas, Murteira Nabo, diz que é o momento de “mudanças estruturais globais” que contemplem a preservação ambiental e combate às desigualdades sociais, aconselhando Portugal a virar-se para África e Brasil. Também o cientista e empresário da Ydreams, António Câmara, diz que Portugal tem de apostar no empreendedorismo com base na inovação. Uma “cultura massiva de criação de startups” para acabar com “os nosso dias negros”.
Estes são, naturalmente, apenas alguns dos contributos que devem ser vistos como aperitivo para as muitas outras interessantes e informadas reflexões. Um livro que poderia ser uma depurada transposição escrita de um hipotético debate sério, humanista, diversificado e construtivo sobre a crise.
José Vegar e Isabel Marques da Silva