Wolverine e a indústria

Foto

Este Verão, só há mesmo um. Um super-herói sozinho contra Harry Potter, os Transformers e Hannah Montana. Wolverine está só. É o único representante do seu género no cartaz da fruta da época dos "blockbusters". Mas se calhar não há só um género "filme baseado em BD de super-heróis". Como indicia o filme que hoje se estreia em Portugal, "X-Men Origens: Wolverine", do título ao elenco alargado e seus heróis que pela primeira vez saltam dos quadradinhos para o grande ecrã, estamos já perante uma indústria.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Este Verão, só há mesmo um. Um super-herói sozinho contra Harry Potter, os Transformers e Hannah Montana. Wolverine está só. É o único representante do seu género no cartaz da fruta da época dos "blockbusters". Mas se calhar não há só um género "filme baseado em BD de super-heróis". Como indicia o filme que hoje se estreia em Portugal, "X-Men Origens: Wolverine", do título ao elenco alargado e seus heróis que pela primeira vez saltam dos quadradinhos para o grande ecrã, estamos já perante uma indústria.

É uma indústria que segue percursos estudados ao milímetro, que joga com nomes sonantes nos cartazes, que já transportou a filosofia nascida nos "comics" para o cinema com "Watchmen - os Guardiões" e que constatou ter atingido a massa crítica (e no fundo as massas em geral). O que, como normalmente acontece na produção em grande escala, pode resultar numa espreguiçadela, numa exploração da mina até a esgotar.

Basta lembrar que no último ano não há estreia de candidato a "blockbuster" ou filme da família BD sem que alguém fale de "O Cavaleiro das Trevas" e do seu apelo transversal. Foi o "Titanic" dos filmes de super-heróis em grande parte por ter sido fiel ao material original da BD e por ter tido Christopher Nolan, Christian Bale e Heath Ledger, todos nomes lista A em Hollywood, como valor acrescentado de realização e actuação.

Mas o risco que correm todos os filmes do género, perdão, da indústria, é então o de relaxar demasiado, produzir em massa e simultaneamente ter expectativas demasiado elevadas.

Por um lado, há a tendência para pensar que todos os públicos são público de filmes de super-heróis desde "O Cavaleiro" ou "Homem de Ferro", outra bem sucedida adaptação de 2008, devido aos seus números de bilheteira. E os resultados de bilheteira de "Watchmen", um filme fiel às bases, mostram talvez a verdadeira dimensão da verdadeira audiência destes produtos.

Por outro, existem regras que facilmente se pervertem. Pode apostar-se nos tais nomes famosos, mas manter-se num confortável mas árido plano unidimensional: história das origens, herói conhece vilão, sequências de acção, lutas marciais, efeitos especiais e fatiotas giras, montagens e duelos, o arrependimento do vilão, o clímax, banda sonora com testosterona. E, no caso de universos alargados como é o de "X-Men", pode tocar várias personagens sem as desenvolver, limitando-se a oferecer algumas como aperitivo para novos filmes ou "cameos". 

Gavin Hood, o realizador de "Wolverine" (e de "Tsosti"ou "Detenção Secreta/Rendition"), acredita "que o público destes filmes quer o espectáculo visual, mas se o espectáculo visual não for muito mais do que um videoclip glorificado, não conseguimos aguentá-lo durante duas horas". No fim de contas, diz ele ao site Den of Geek, tem de haver boa acção e "uma ligação emocional com a personagem".

Mas para falarmos no que Danny Boyle dizia à revista Empire ("Os filmes de livros de BD já não são um género, são uma indústria"), para falarmos numa indústria, nada como uma longa lista de projectos em desenvolvimento. É preciso investimento e genealogia.

Desde 2002 que se estreiam, a cada ano, pelo menos dois filmes de super-heróis nascidos na BD (fora os restantes filmes baseados em "comics" que não versam sobre super-pessoas). Blade, Homem-Aranha, Super-Homem, Hulk, Ghost Rider, Elektra, Daredevil, Batman, Homem de Ferro, Catwoman, X-Men, Quarteto Fantástico, Surfista Prateado são apenas alguns dos nomes desses supers que se transformaram em filmes bons, maus ou sofríveis. E que criaram declinações múltiplas de lucros em "merchandising", DVD, videojogos e afins.

"Wolverine" é a expressão estival 2009 dessa indústria e nos seus ingredientes estão outros ícones BD: Dentes de Sabre (Liev Schreiber), Deadpool (Ryan Reynolds), Gambit (Taylor Kitsch) e John Wraith (will.i.am - sim, o senhor dos Black Eyed Peas). Não é um "spoiler" dizer que há personagens que se perdem neste filme. Que não respiram, que não amadurecem. Esta "franchise" lida com a tal dificuldade de ter uma multiplicidade de personagens que os fãs querem reconhecer e que os neófitos querem ver em acção.

Primeiro foram os dois "X-Men" de Bryan Singer (2000 e 2003), depois o de Brett Ratner (2006). Agora, há outros tantos em fila. A Fox, que possui os direitos de exploração cinematográfica do universo X-Men (Marvel), tem mais planos para a X-Franchise.

"Wolverine", o herói a solo está então aí, depois de três filmes de colectivo. Na forja, ainda sob a forma de plano, está um "X-Men: First Class", literalmente os X-Miúdos, e mais distante, mas em desenvolvimento há o projecto Origens da personagem Magneto.

Ou seja, a Fox começou com o grupo e está agora a partir para as histórias individuais. A outra rota possível neste espaço industrial é encetar percurso com cada super-indivíduo e depois pensar num colectivo, num super-super-filme. "O que vai ser interessante é dentro de alguns anos se os Avengers se juntarem e ver para onde isso vai", comentava em Fevereiro Patrick Wilson, o Nite Owl II de "Watchmen", sobre o futuro risonho das "franchises" de super-heróis.

No caso dos Avengers/Vingadores (Homem de Ferro, Incrível Hulk, Thor e Capitão América), a Paramount já tem um filme "Homem de Ferro" e o segundo está a caminho (2010) com um elenco de luxo, cheio dos tais nomes sonantes (Mickey Rourke, Sam Rockwell, Scarlett Johansson). Hulk já teve dois filmes e ainda os rumores em torno de um "Capitão América" para 2011 ganharam recentemente um novo nome: Mathew McConaughey. Mas Thor já está a cozinhar num forno nórdico. O herói da Marvel vai ser dirigido por Kenneth Branagh e o filme deve sair em 2011. Nele, poderá entrar Nick Fury, a personagem do agente da S.H.I.E.L.D. encarnada por Samuel L. Jackson e que já fez um "cameo" em "Homem de Ferro". Um detalhe: diz-se que Jackson terá assinado um contrato para nove-filmes-nove sob a capa de Fury.

Na Warner, que explora as personagens da DC Comics, conta-se com uma terceira prequela Batman com Christian Bale e Christopher Nolan, mas ainda não se sabe se será feito um filme com a Justice League (Batman, Super-Homem e Wonder Woman, entre outros).

Fora estas movimentações, há ainda outros super-planos na forja. Michel Gondry vai realizar, para estreia no Verão de 2010 (mais um), o filme sobre o Green Hornet e seu parceiro, o incansável Kato. Em vez de Bruce Lee, ele vai ser Stephen Chow e o Green Hornet vai ser Seth Rogen, que co-assina o argumento com Evan Goldberg. Também há conversações em curso para o quarto Homem-Aranha (Sam Raimi e Tobey Maguire estão a bordo). E a Warner está a trabalhar nos guiões de Flash, Lanterna Verde, Mulher Maravilha e Arqueiro Verde.