Um Amor de Perdição

Se mais provas não houvesse (e até tem havido), "Um Amor de Perdição" é o exemplo ideal de que é possível fazer cinema para o grande público em Portugal sem tombar no audiovisual formatado para televisão, pegar numa obra clássica da literatura portuguesa e adaptá-la para os nossos dias sem a trair nem a esventrar, e conseguir no processo um óptimo filme de "produção média", sem ser populista nem elitista, como não é hábito fazer-se por cá.

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Se mais provas não houvesse (e até tem havido), "Um Amor de Perdição" é o exemplo ideal de que é possível fazer cinema para o grande público em Portugal sem tombar no audiovisual formatado para televisão, pegar numa obra clássica da literatura portuguesa e adaptá-la para os nossos dias sem a trair nem a esventrar, e conseguir no processo um óptimo filme de "produção média", sem ser populista nem elitista, como não é hábito fazer-se por cá.


Mário Barroso já o tinha conseguido ao primeiro ensaio, "O Milagre Segundo Salomé" (2004), mas sobe a fasquia com esta adaptação livre do "Amor de Perdição" de Camilo inteligentemente transformada em apaixonado melodrama adolescente dobrado de meta-comentário do próprio romance (usado como artifício no interior da própria história), sem perder nada do romantismo quase operático original, sublinhado pela sumptuosa partitura de Bernardo Sassetti. Dito isto, o grande trunfo de "Um Amor de Perdição", que é a sua modéstia discreta, joga um pouco contra si próprio - há momentos em que seria preciso um rasgo qualquer para levar o filme um pouco mais longe e, sobretudo, a intensidade de Tomás Alves não encontra eco nem na Teresa de Ana Moreira (praticamente ausente do filme) nem na Mariana demasiado apagada de Catarina Wallenstein. Mas que isso não impeça "Um Amor de Perdição" de encontrar o público que merece.