A Corte do Norte
João Botelho "penetra" em território habitualmente demarcado por Manoel de Oliveira, adaptando um romance de Agustina Bessa-Luís, e mata dois coelhos de uma cajadada. Primeiro, assina um melhor filme que os últimos Oliveira, com uma adaptação mórbida e hiperromântica significativamente mais próxima da crueldade carnal e telúrica de Agustina do que as verbenas placidamente filosóficas do centenário cineasta portuense, mantendo intactas a sua identidade visual enquanto esteta austero e a sua predilecção por "bonecas russas" narrativas. Depois, assina o seu melhor filme em muito, muito tempo com esta saga barroca e desmesurada sobre as grandezas e misérias das mulheres de uma abastada família madeirense (todas interpretadas por uma convenientemente petulante Ana Moreira), centrada na figura de uma misteriosa bisavó de origens escandalosas e destino trágico.
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João Botelho "penetra" em território habitualmente demarcado por Manoel de Oliveira, adaptando um romance de Agustina Bessa-Luís, e mata dois coelhos de uma cajadada. Primeiro, assina um melhor filme que os últimos Oliveira, com uma adaptação mórbida e hiperromântica significativamente mais próxima da crueldade carnal e telúrica de Agustina do que as verbenas placidamente filosóficas do centenário cineasta portuense, mantendo intactas a sua identidade visual enquanto esteta austero e a sua predilecção por "bonecas russas" narrativas. Depois, assina o seu melhor filme em muito, muito tempo com esta saga barroca e desmesurada sobre as grandezas e misérias das mulheres de uma abastada família madeirense (todas interpretadas por uma convenientemente petulante Ana Moreira), centrada na figura de uma misteriosa bisavó de origens escandalosas e destino trágico.
É, de caminho, o mais visualmente belo filme português que vemos em muitos, muitos anos, com uma fotografia sumptuosa de João Ribeiro.