Morreu o escultor Lagoa Henriques

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Lagoa Henriques é o autor da escultura representativa do poeta Fernando Pessoa que se encontra na esplanada do Café Brasileira PÚBLICO (arquivo)

O féretro de Lagoa Henriques, autor da escultura representativa do poeta Fernando Pessoa que se encontra na esplanada do Café Brasileira, no Chiado, em Lisboa, estará a partir de hoje em câmara ardente no seu atelier em Belém, também em Lisboa, a partir das 18h00 e até às 23h00, com funeral marcado para segunda-feira no Cemitério da Ajuda, às 10h30.

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O féretro de Lagoa Henriques, autor da escultura representativa do poeta Fernando Pessoa que se encontra na esplanada do Café Brasileira, no Chiado, em Lisboa, estará a partir de hoje em câmara ardente no seu atelier em Belém, também em Lisboa, a partir das 18h00 e até às 23h00, com funeral marcado para segunda-feira no Cemitério da Ajuda, às 10h30.

Mestre e motivador de sucessivas gerações de criadores artísticos, autor de desenhos e esculturas notáveis, poeta, conferencista e coleccionador de peças tão diversas como pinturas, conchas, livros, troncos de árvores e outros acervos, segundo o seu site na Internet, Lagoa Henriques "deixa um vazio" no círculo em que se movimentava.

Lagoa Henriques deixa uma obra marcada pela transfiguração das formas clássicas através do contacto directo com as pessoas, a cidade e a natureza. Exemplo emblemático dessa ligação das formas eruditas ao quotidiano é a estátuta que criou de Fernando Pessoa, sentado a uma mesa do Café A Brasileira, que o poeta frequentava para escrever e falar com os amigos.

António Augusto Lagoa Henriques, nascido em Lisboa a 27 de Dezembro de 1923, era grande admirador de Pessoa e de Cesário Verde. Dizia que Pessoa tinha sido o seu mestre da realidade interior e Cesário o mestre da realidade exterior, inspirando muitas das suas esculturas, como a do Grupo das Varinas.

O ensino foi outra grande paixão do escultor, que continou a dar aulas e a fazer conferências após completar 80 anos, nomeadamente na Escola de Superior de Belas-Artes do Porto e de Lisboa, e na Universidade Autónoma.

Costumava levar os alunos de desenho à rua para que tivessem contacto com o movimento da cidade, as pessoas, os elementos da natureza, aliando o ensino das formas clássicas à descoberta da realidade.

Foi na Escola de Belas-Artes de Lisboa que iniciou os estudos de escultura, em 1945, mas passados dois anos transferiu-se para a Escola de Belas-Artes do Porto, onde teve como referência principal da sua formação artística o professor Barata Feyo.

Finalizado o curso com nota máxima, conseguiu uma bolsa e foi estudar para Itália, orientado pelo escultor Marino Marini. Esteve ainda em França, Bélgica, Holanda, Grécia e Inglaterra, países onde conseguiu uma visão ampla do ensino do desenho e escultura que viria a introduzir em Portugal.

Regressado ao país natal, a sua carreira fica marcada, nos anos 70, pela destruição de um grande número de peças devido a um incêndio que eclodiu no seu atelier, em Lisboa.

Além da conhecida estátua de Fernando Pessoa, deixou muitas obras de arte pública em várias localidades, como o conjunto "União do Lis e Lena", no centro de Leiria, e a escultura de Alves Redol em Vila Franca de Xira, que causou polémica na altura, por ter retratado o escritor nu, apenas com a boina na cabeça.

Entre outros, recebeu o Prémio Soares dos Reis, o Prémio Teixeira Lopes, o Prémio Rotary Clube do Porto, o Prémio Diogo de Macedo e o Prémio de Escultura da II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian.

Notícia actualizada às 13h02.