Agência de detectives que procurou Maddie recrutou advogado para "queimar" Gonçalo Amaral no caso Joana Cipriano
Esta história, revelada hoje num especial informativo da SIC, da autoria do jornalista Pedro Coelho, explica as ligações entre as pessoas que gravitaram em torno do desaparecimento das duas crianças.
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Esta história, revelada hoje num especial informativo da SIC, da autoria do jornalista Pedro Coelho, explica as ligações entre as pessoas que gravitaram em torno do desaparecimento das duas crianças.
Joana Cipriano, a menina de oito anos que desapareceu da sua aldeia em 2004 e cujo corpo nunca foi descoberto, acabou por resultar na detenção e condenação a 16 anos de prisão da sua mãe, Leonor Cipriano, por homicídio e ocultação de cadáver.
Em Fevereiro de 2005 Leonor Cipriano fazia as manchetes dos jornais, depois de o “Expresso” ter publicado fotografias suas com nódoas negras no rosto.
Após esse episódio, o detective Gonçalo Amaral e mais quatro membros da PJ de Faro, foi acusado pelo Ministério Público de omissão de denúncia de actos de tortura cometidos por outros investigadores durante os interrogatórios à mãe de Joana.
Leonor Cipriano foi defendida durante toda a fase de inquérito pelo advogado João Grade dos Santos mas, “nas vésperas do arranque do julgamento, a cliente prescindiu dos serviços do advogado”, avança a SIC.
Anos mais tarde, após o desaparecimento da pequena Madeleine McCain, a 3 de Maio de 2007, entra em cena a agência de detectives Método 3, que tentou nessa altura recrutar o advogado de Leonor Cipriano, João Grade dos Santos, explicando-lhe que a sua ajuda seria muito útil às suas investigações, dadas as semelhanças entre ambos os casos.
Nessa altura, a Método 3 mostrou-se muito disponível, indicou inclusivamente que “dinheiro para despesas não era problema” e puxou à baila o tema “Gonçalo Amaral”. Só meses mais tarde, já depois de ter recusado trabalhar para a agência espanhola, é que percebeu que a Método 3 tinha uma “agenda”.
Essa “agenda” era, segundo a SIC, arranjar um advogado que pusesse Gonçalo Amaral “fora de combate”, uma vez que, em ambos os casos, o detective parecia querer o mesmo: a culpabilidade dos pais.
Perante a recusa de João Grade dos Santos, a Método 3 abordou outro advogado – o jovem Marcos Aragão Correia, que chegou a participar nas buscas de Madeleine como médium e que se envolveu posteriormente em investigações relacionadas com o caso Joana, acabando por aceitar defender Leonor Cipriano no julgamento contra os cinco inspectores de Faro.
“Os detectives [da Método 3] vieram ter comigo e disseram-me – nós estamos muito preocupados porque há um elemento comum aos dois casos – Gonçalo Amaral – que não está interessado em procurar as crianças, só está interessado em incriminar os pais. Aconteceu no caso Maddie e também no caso Joana”, explicou Aragão Correia, citado pela SIC.
O jovem advogado aceitou imediatamente a proposta da agência espanhola para fazer aquilo que João Grade dos Santos tinha recusado fazer: “Fiquei indignado – recorda – achei que o Sr. Gonçalo Amaral tinha um interesse oculto em incriminar sistematicamente as mães, sem ter provas contra elas”.
Foi depois de uma visita a Leonor Cipriano à cadeia de Odemira que Aragão Correia se tornou o defensor de Leonor Cipriano. “Foi a Leonor que me pediu. Disse-me que nunca ninguém a tinha defendido assim. Depois de muito reflectir decidi aceitar, e comuniquei ao Dr. João Grade dos Santos a decisão da Leonor”, avança a SIC, citando o causídico.
Assim que Marcos Aragão Correia assumiu a defesa de Leonor, o processo, relativo ao julgamento de Faro contra os cinco inspectores da PJ, sofre uma reviravolta. “O grande pesadelo do Gonçalo Amaral foi eu ter entrado no caso”, sublinhou Aragão Correia.
Paulo Pereira Cristóvão, ex-inspector da PJ e um dos cinco arguidos de Faro, acusa Marcos Aragão Correia de ter tentado fazer “um negócio” com os arguidos, escreve a SIC. “E esse negócio era: acusem todos o Gonçalo Amaral que eu faço com que a Leonor Cipriano diga que os senhores nada têm a ver com isto”, explicou.
Marcos Aragão Correia, ouvido pelo jornalista Pedro Coelho, não desmente a existência do acordo, mas explicou que ele está relacionado com “um desabafo de um dos arguidos”. “Esse arguido fez chegar um mail a um amigo meu onde apontava as culpas para Gonçalo Amaral”, denuncia o advogado.
Escudando-se com um “contrato de sigilo” que o liga à Método 3, Marcos Aragão Correia não deu muito mais pormenores à equipa de reportagem, mas disse ainda: “Se estou a tomar partido por uma das partes, é óbvio que essa parte me está a dar apoio moral”.
Quer a Método 3 quer o porta-voz do casal McCann, contactados pela SIC, recusaram prestar declarações.