Novo patriarca da Igreja Ortodoxa russa já foi entronizado
Pastor e teólogo, Cirilo de Smolensk (a partir de hoje, Cirilo I, de Moscovo), 62 anos, é considerado capaz de resistir à instrumentalização da Igreja pelo poder político. Pai e avô estiveram presos nas cadeias soviéticas antes de serem padres (que na Igreja Ortodoxa podem casar, embora só os monges celibatários possam ser bispos).
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Pastor e teólogo, Cirilo de Smolensk (a partir de hoje, Cirilo I, de Moscovo), 62 anos, é considerado capaz de resistir à instrumentalização da Igreja pelo poder político. Pai e avô estiveram presos nas cadeias soviéticas antes de serem padres (que na Igreja Ortodoxa podem casar, embora só os monges celibatários possam ser bispos).
Em 2000, Cirilo coordenou a redacção dos Fundamentos da Doutrina Social da Igreja Ortodoxa Russa, onde se diz que os crentes devem desobedecer a um Estado que viole princípios cristãos. O diário Vedomosti, citado pela AFP, espera para ver se ele saberá mediar entre o poder e os russos, quando a sociedade civil está "asfixiada ou simplesmente não existe".
Cirilo, Vladimir Mikhailovich Gundyayev de seu nome civil, é aberto ao diálogo com as restantes igrejas cristãs. Quando, em 1974, passou a dirigir a Academia de Teologia de Leninegrado (São Petersburgo), onde nascera, formou um dinâmico corpo docente, triplicou o número de estudantes e traduziu os mais importantes teólogos cristãos ocidentais, como Karl Rahner e Hans Urs von Balthasar.
Dez anos depois, foi obrigado a sair. "Fui acusado de ser um agente de influência ocidental sobre a juventude", conta ele, citado pelo La Croix, no livro O Evangelho e a Liberdade - os valores da tradição na sociedade laica, publicado em francês em 2006 (em http://www.orthodoxie.com/2006/06/enregistrements.html está o vídeo da apresentação pelo próprio Cirilo). Críticas mais recentes acusam-no de se aproximar demasiado do catolicismo.
O Papa saudou "com alegria" a eleição do patriarca - com quem se encontrou em 2005, 2006 e 2007. Bento XVI assegurou a "proximidade espiritual" e a vontade de "cooperar" pela "paz, justiça e defesa das pessoas marginalizadas". Do patriarca Bartolomeu, de Constantinopla, chegaram votos de trabalho conjunto "em harmonia" - que tem faltado entre os dois patriarcados. Constantinopla (Istambul) tem a primazia de honra tradicional, que Moscovo aceita cada vez menos, tendo em conta o peso da Igreja Russa no seio da ortodoxia.
Nascido em 1946, o novo guia espiritual de metade dos cristãos ortodoxos do mundo habituou-se desde jovem a contrariar modas. "Ir contracorrente, não aceitar os estereótipos propostos, não seguir a moda ideológica" eram atitudes que o norteavam, conta.
Em 1965, foi para o seminário de Leninegrado, passando a representar o Patriarcado de Moscovo em encontros internacionais e, depois, junto do Conselho Mundial de Igrejas. Em 1969, recebe a tonsura de monge e toma o nome de Cirilo, em homenagem ao evangelizador dos eslavos. Em 1976 vai para bispo de Smolensk.
Em 1989, Cirilo passa a presidir ao Departamento das Relações Exteriores do patriarcado. É criticado por aproveitar dinheiro que o Estado recolhia dos impostos sobre o tabaco, e que o então metropolita utiliza para reconstruir igrejas - incluindo a Catedral do Cristo Salvador, onde hoje será entronizado, e que Estaline dinamitara.
Terça-feira, quando os sinos de Moscovo tocaram anunciando a eleição, Cirilo agradeceu a nova missão consciente das dificuldades: "No centro deste serviço está a santa cruz, uma cruz de tal tamanho que só pode ser entendida por [Jesus]."
Notícia da edição impressa, actualizada às 13h40