doismileoito
Despachemos já a questão. Os doismileoito, pessoal da Maia com títulos de canções tão porreiros quanto "Acordes c/arroz" ou "Caratéquide", gostam de guitarras enfurecidas, de baixos a caminho do funk e de gritar refrões lá no alto - descarga de energia a que, espera-se, se junte a malta que os ouve cá em baixo. Cantam com sotaque nortenho e, para eles, a música é um "melting pot" de referências - sempre eléctricas, sempre a encaminhar-se para a vivência comunal da canção rock.
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Despachemos já a questão. Os doismileoito, pessoal da Maia com títulos de canções tão porreiros quanto "Acordes c/arroz" ou "Caratéquide", gostam de guitarras enfurecidas, de baixos a caminho do funk e de gritar refrões lá no alto - descarga de energia a que, espera-se, se junte a malta que os ouve cá em baixo. Cantam com sotaque nortenho e, para eles, a música é um "melting pot" de referências - sempre eléctricas, sempre a encaminhar-se para a vivência comunal da canção rock.
Ou seja, os doismileoito vão ser vistos por muitos (já estão a ser vistos?) como a segunda encarnação dos Ornatos Violeta. E muito bem, que não se deve negligenciar a influência de Manuel Cruz e companhia numa geração que cresceu quando os anos 1990 se encaminhavam para o século XXI - e há de facto algo de Ornatos em canções como "Bem melhor 12200074" ou "Música d'homens". E muito mal, que não se deve lançar esse peso castrador sobre os doismileoito quando, na verdade, eles contornam tão declaradamente a questão. Neste homónimo álbum de estreia, o trio dispara em várias direcções - o que é, ao mesmo tempo, a sua força e a sua fraqueza.
"Acordes c/arroz", a canção que já lhes conhecemos há muito, flui entre serenidade de guitarras dedilhadas e sons de caixinha de música, e controlada explosão rock'n'roll no refrão. Para apimentar a coisa, atiram ali a meio um ritmo quebrado, arraçado de reggae, e que tudo isto seja tricotado sem revelar marcas de costura é prova de talento em acção - está no extremo oposto de uma planagem sónica, infelizmente subdesenvolvida, intitulada "A.T.L.".
Atentos aos pormenores, os doismileoito apreciam tanto dedicar-se a cuidadas pinceladas sonoras (mui "indie" a "digitalia" etérea de "Cabanas (Peterpanismo)") quanto a total falta de descrição de ritmos tonitruantes e guitarras em ebulição (conferir a rockalhada pós-grunge de "Caratequide").
Através deste álbum que, ainda que vivido em clima de euforia juvenil (temperada pelo meticuloso trabalho de produção), arranja espaço para baladas acústicas em tom confessional (a muito interessante "so05/so06 e a mais banal "Tempo a mais"), os doismileoito apresentam-se com estrondo à sua geração. É uma óptima apresentação. O grande álbum, a surgir, chegará depois.