Foi você que pediu vários filmes sobre a mesma pessoa?

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Não é a primeira vez que isto acontece, mas é sem dúvida uma altura em que parece estar a acontecer repetidamente. E a palavra-chave aqui é mesmo "repetição". Ainda em 2006 tivemos dois Truman Capote - o "Infame" e o "Capote" tão só, dois filmes biográficos sobre o jornalista e escritor americano, lançados com menos de um ano de distância e aparentemente destinados a lançar a confusão junto dos espectadores mais distraídos.

"Qual é a lógica de produzir dois filmes sobre a mesma história em tão curto espaço de tempo?", perguntava-se um espectador português no fórum "online" da Rede Ex Aequo. Pois bem, podemos apenas especular. Coincidências? Espionagem industrial em Hollywood? Boas ideias sincronizadas? Este ano, a história repete-se uma e outra vez. E algumas envolvem "biopics".

Sherlock Holmes, Coco Chanel, Pablo Escobar e Salvador Dali têm em comum muito pouca coisa. Cada um tem sua nacionalidade, a sua corrente artística, um até é ficcional e combatente do crime, outro um refinado traficante de droga. Mas todos têm 2009 como ano essencial: ou começam a filmar-se vários projectos sobre cada um deles, ou entram em produção em breve.

Comecemos por mr. Holmes, Sherlock Holmes. Os planos fílmicos que envolvem o detective criado por Sir Arthur Conan Doyle jogam-se nas duas margens do Atlântico. Primeiro, em Junho de 2008, a Warner Brothers anunciava o seu projecto Holmes: Guy Ritchie como realizador, Robert Downey Jr. como Sherlock, Jude Law como o dr. Watson, 13 de Novembro de 2009 como data de estreia. Se parecia elementar que a história ficava por aqui, passado um mês tudo mudava. A Columbia Pictures anunciava na "Variety" que tinha na calha... um projecto sobre Sherlock Holmes.

Sem datas associadas (nem entradas no IMDB para ajudar), soube-se apenas que o projecto era algo ligeiramente diferente, visto que a ideia é fazer uma comédia Holmes. Sacha Baron Choen, o actor eternamente conhecido como Borat, vai ser o detective dado ao ópio e Will Ferrell será o seu "sidekick" mais afável. Ainda não há realizador associado ao projecto, mas já há temores, sobretudo em relação ao Holmes de Ritchie. Uma das imagens da rodagem traz Downey Jr. de tronco nu, em pleno combate ensanguentado de artes marciais (práticas que são apenas uma referência nos livros de Doyle)...

Mas ainda é cedo para decretar um vencedor na luta pelo melhor Sherlock de 2009/2010. A verdade é que com Capote, "Infame" ficou como um DVD que confunde os espectadores e "Capote" como o filme que deu o Óscar a Philip Seymour Hoffman. No caso de "Sherlock Holmes" de Ritchie e do ainda não baptizado Holmes com Borat, ambos têm actores à medida para ter relevância e marketing q.b., pelo que serão as bilheteiras a decidir o duelo. E será que as audiências estão disponíveis? O correspondente da "Variety" em Londres, Archie Thomas, escrevia após noticiar o projecto da Columbia: "Supõe-se que [os estúdios] tenham feito a sua pesquisa e que há um apetite por Sherlock Holmes, mas há apetite para dois?" A conclusão da revista especializada foi que os projectos gémeos levarão os estúdios a esticar uma situação já de si perigosa até à iminência do desastre.

Nos últimos anos, o mercado já parece ter receitas suficientemente repetidas até à exaustão. No final dos anos 1970 apareciam os "blockbusters" de Verão, em contraste com os filmes nada "feel good" da década, cínicos e duros. Nos anos 1980 cresciam os "franchises" centrados em personagens ("Indiana Jones", "Regresso ao Futuro" - a lista é interminável e recheada de títulos muito mais esquecíveis). A par disso e em simultâneo, duas décadas depois o filão pertence às adaptações de BD e a mundos de fantasia ("Harry Potter", "A Bússola Dourada", até "Senhor dos Anéis"). Mas segundo as contas do "Le Figaro", e desde o final da década de 1980, houve cerca de 30 filmes gémeos produzidos em Hollywood, embora eles sejam mais gémeos nas temáticas do que nas personagens principais ("Valmont" e "Ligações Perigosas" ou "Platoon" e "Nascido para Matar").

Trigémeos

E quando se fala de três filmes sobre a mesma pessoa? Aí, estamos a falar de Salvador Dali, que nem nos tempos de colaboração com Luís Buñuel sonharia com o milagre da multiplicação de filmes sobre si.
António Banderas está associado a "Dali", realizado por Simon West ("Lara Croft: Tomb Raider" e produtor executivo de "Cercados"). O actor espanhol deve interpretar o pintor surrealista num filme cujos direitos foram adquiridos por West nos idos de 2003. A história deve rondar a II Guerra e a crescente notoriedade de Dali nessa época, mas também a sua decadência no final da vida. Tecnicamente será um misto de acção real e CGI, além de música, para tentar equivaler no cinema o universo onírico de Salvador Dali. E começa a ser filmado em breve em Espanha e Inglaterra.

O outro, "Dali & I: The Surreal Story", tem Al Pacino como Salvador Dali e Andrew Nicol na realização e no argumento, e o actor Cilian Murphy já está associado ao projecto, para interpretar o escritor e negociante de arte belga Stan Lauryssens. Deve estrear-se este ano e segue exactamente o olhar de Stan Lauryssens sobre Dali e a sua mulher, Gala. E se Al Pacino e António Banderas não chegavam, eis que o protagonista do "teen" "Crepúsculo", a saga vampiresca que varreu as bilheteiras mundiais no final de 2008, se prepara também para ser Salvador Dali. Robert Pattinson vai integrar o elenco de "Little Ashes", de Paul Morrison, que acompanha os jovens Dali e Federico García Lorca e as suas aventuras amorosas.

Também gémeos, mas desta feita em França, são os filmes sobre Coco Chanel, mestra da costura que fundou um dos maiores impérios do luxo mundial, a casa Chanel. "Chanel e Stravinsky, a história secreta", realizado por Jan Kounen, passa em revista o romance entre a criadora de moda e o compositor no momento da revolução russa. A actriz Anne Mouglalis será Coco e Mads Mikkelsen será Igor Stravinsky e o filme estreia-se em Março em França.

A outra Chanel em grande ecrã, com mais "star power" internacional, será Audrey Tautou, protagonista de "Coco avant Chanel", que conta a história de Coco antes da moda. O filme tem guarda-roupa de Karl Lagerfeld, director criativo da "maison" Chanel. A concorrência entre ambos será ainda apimentada por uma mini-série de televisão, protagonizada por Shirley MacLaine.

A lista não acaba aqui. Há mais filmes gémeos no forno hollywoodesco, nomeadamente sobre Pablo Escobar, a fazer lembrar a série de tv "Entourage" ("Vidas em Hollywood" ou "A Vedeta", consoante a edição em DVD ou a passagem nos canais portugueses) e o projecto de prestígio do jovem actor ficcional Vinnie Chase que luta para fazer um "biopic" sobre o narcotraficante Pablo Escobar. O primeiro na lista tem já Oliver Stone como produtor, mas nada mais se sabe sobre o projecto.

O segundo já está mais composto: chama-se "Killing Pablo", terá o espanhol Javier Bardem ou o actor venezuelano Edgar Ramírez (participa em "Che", de Soderbergh) como protagonista e vai ser produzido pela Paramount e pela Dreamworks. O filme deve estrear-se este ano, com Joe Carnahan atrás da câmara. Certo é que Christian Bale, depois de se vestir de Batman e de John Connor ("Terminator: Salvation"),vai ser um militar americano, o major Steve Jacoby, em "Killing Pablo".

Finda a lista, provisória para já visto que nisto dos bastidores de Hollywood nada é definitivo, fica a pergunta: Porquê? Seja pela chegada aproximada dos argumentos aos estúdios, em que uns perdem e outros ganham e quem perde fica com água na boca, seja pelas conversas de salão que podem levar a sobreposições na indústria, a verdade é que quase todos os filmes parecem ter um potencial gémeo à espreita.

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Não é a primeira vez que isto acontece, mas é sem dúvida uma altura em que parece estar a acontecer repetidamente. E a palavra-chave aqui é mesmo "repetição". Ainda em 2006 tivemos dois Truman Capote - o "Infame" e o "Capote" tão só, dois filmes biográficos sobre o jornalista e escritor americano, lançados com menos de um ano de distância e aparentemente destinados a lançar a confusão junto dos espectadores mais distraídos.

"Qual é a lógica de produzir dois filmes sobre a mesma história em tão curto espaço de tempo?", perguntava-se um espectador português no fórum "online" da Rede Ex Aequo. Pois bem, podemos apenas especular. Coincidências? Espionagem industrial em Hollywood? Boas ideias sincronizadas? Este ano, a história repete-se uma e outra vez. E algumas envolvem "biopics".

Sherlock Holmes, Coco Chanel, Pablo Escobar e Salvador Dali têm em comum muito pouca coisa. Cada um tem sua nacionalidade, a sua corrente artística, um até é ficcional e combatente do crime, outro um refinado traficante de droga. Mas todos têm 2009 como ano essencial: ou começam a filmar-se vários projectos sobre cada um deles, ou entram em produção em breve.

Comecemos por mr. Holmes, Sherlock Holmes. Os planos fílmicos que envolvem o detective criado por Sir Arthur Conan Doyle jogam-se nas duas margens do Atlântico. Primeiro, em Junho de 2008, a Warner Brothers anunciava o seu projecto Holmes: Guy Ritchie como realizador, Robert Downey Jr. como Sherlock, Jude Law como o dr. Watson, 13 de Novembro de 2009 como data de estreia. Se parecia elementar que a história ficava por aqui, passado um mês tudo mudava. A Columbia Pictures anunciava na "Variety" que tinha na calha... um projecto sobre Sherlock Holmes.

Sem datas associadas (nem entradas no IMDB para ajudar), soube-se apenas que o projecto era algo ligeiramente diferente, visto que a ideia é fazer uma comédia Holmes. Sacha Baron Choen, o actor eternamente conhecido como Borat, vai ser o detective dado ao ópio e Will Ferrell será o seu "sidekick" mais afável. Ainda não há realizador associado ao projecto, mas já há temores, sobretudo em relação ao Holmes de Ritchie. Uma das imagens da rodagem traz Downey Jr. de tronco nu, em pleno combate ensanguentado de artes marciais (práticas que são apenas uma referência nos livros de Doyle)...

Mas ainda é cedo para decretar um vencedor na luta pelo melhor Sherlock de 2009/2010. A verdade é que com Capote, "Infame" ficou como um DVD que confunde os espectadores e "Capote" como o filme que deu o Óscar a Philip Seymour Hoffman. No caso de "Sherlock Holmes" de Ritchie e do ainda não baptizado Holmes com Borat, ambos têm actores à medida para ter relevância e marketing q.b., pelo que serão as bilheteiras a decidir o duelo. E será que as audiências estão disponíveis? O correspondente da "Variety" em Londres, Archie Thomas, escrevia após noticiar o projecto da Columbia: "Supõe-se que [os estúdios] tenham feito a sua pesquisa e que há um apetite por Sherlock Holmes, mas há apetite para dois?" A conclusão da revista especializada foi que os projectos gémeos levarão os estúdios a esticar uma situação já de si perigosa até à iminência do desastre.

Nos últimos anos, o mercado já parece ter receitas suficientemente repetidas até à exaustão. No final dos anos 1970 apareciam os "blockbusters" de Verão, em contraste com os filmes nada "feel good" da década, cínicos e duros. Nos anos 1980 cresciam os "franchises" centrados em personagens ("Indiana Jones", "Regresso ao Futuro" - a lista é interminável e recheada de títulos muito mais esquecíveis). A par disso e em simultâneo, duas décadas depois o filão pertence às adaptações de BD e a mundos de fantasia ("Harry Potter", "A Bússola Dourada", até "Senhor dos Anéis"). Mas segundo as contas do "Le Figaro", e desde o final da década de 1980, houve cerca de 30 filmes gémeos produzidos em Hollywood, embora eles sejam mais gémeos nas temáticas do que nas personagens principais ("Valmont" e "Ligações Perigosas" ou "Platoon" e "Nascido para Matar").

Trigémeos

E quando se fala de três filmes sobre a mesma pessoa? Aí, estamos a falar de Salvador Dali, que nem nos tempos de colaboração com Luís Buñuel sonharia com o milagre da multiplicação de filmes sobre si.
António Banderas está associado a "Dali", realizado por Simon West ("Lara Croft: Tomb Raider" e produtor executivo de "Cercados"). O actor espanhol deve interpretar o pintor surrealista num filme cujos direitos foram adquiridos por West nos idos de 2003. A história deve rondar a II Guerra e a crescente notoriedade de Dali nessa época, mas também a sua decadência no final da vida. Tecnicamente será um misto de acção real e CGI, além de música, para tentar equivaler no cinema o universo onírico de Salvador Dali. E começa a ser filmado em breve em Espanha e Inglaterra.

O outro, "Dali & I: The Surreal Story", tem Al Pacino como Salvador Dali e Andrew Nicol na realização e no argumento, e o actor Cilian Murphy já está associado ao projecto, para interpretar o escritor e negociante de arte belga Stan Lauryssens. Deve estrear-se este ano e segue exactamente o olhar de Stan Lauryssens sobre Dali e a sua mulher, Gala. E se Al Pacino e António Banderas não chegavam, eis que o protagonista do "teen" "Crepúsculo", a saga vampiresca que varreu as bilheteiras mundiais no final de 2008, se prepara também para ser Salvador Dali. Robert Pattinson vai integrar o elenco de "Little Ashes", de Paul Morrison, que acompanha os jovens Dali e Federico García Lorca e as suas aventuras amorosas.

Também gémeos, mas desta feita em França, são os filmes sobre Coco Chanel, mestra da costura que fundou um dos maiores impérios do luxo mundial, a casa Chanel. "Chanel e Stravinsky, a história secreta", realizado por Jan Kounen, passa em revista o romance entre a criadora de moda e o compositor no momento da revolução russa. A actriz Anne Mouglalis será Coco e Mads Mikkelsen será Igor Stravinsky e o filme estreia-se em Março em França.

A outra Chanel em grande ecrã, com mais "star power" internacional, será Audrey Tautou, protagonista de "Coco avant Chanel", que conta a história de Coco antes da moda. O filme tem guarda-roupa de Karl Lagerfeld, director criativo da "maison" Chanel. A concorrência entre ambos será ainda apimentada por uma mini-série de televisão, protagonizada por Shirley MacLaine.

A lista não acaba aqui. Há mais filmes gémeos no forno hollywoodesco, nomeadamente sobre Pablo Escobar, a fazer lembrar a série de tv "Entourage" ("Vidas em Hollywood" ou "A Vedeta", consoante a edição em DVD ou a passagem nos canais portugueses) e o projecto de prestígio do jovem actor ficcional Vinnie Chase que luta para fazer um "biopic" sobre o narcotraficante Pablo Escobar. O primeiro na lista tem já Oliver Stone como produtor, mas nada mais se sabe sobre o projecto.

O segundo já está mais composto: chama-se "Killing Pablo", terá o espanhol Javier Bardem ou o actor venezuelano Edgar Ramírez (participa em "Che", de Soderbergh) como protagonista e vai ser produzido pela Paramount e pela Dreamworks. O filme deve estrear-se este ano, com Joe Carnahan atrás da câmara. Certo é que Christian Bale, depois de se vestir de Batman e de John Connor ("Terminator: Salvation"),vai ser um militar americano, o major Steve Jacoby, em "Killing Pablo".

Finda a lista, provisória para já visto que nisto dos bastidores de Hollywood nada é definitivo, fica a pergunta: Porquê? Seja pela chegada aproximada dos argumentos aos estúdios, em que uns perdem e outros ganham e quem perde fica com água na boca, seja pelas conversas de salão que podem levar a sobreposições na indústria, a verdade é que quase todos os filmes parecem ter um potencial gémeo à espreita.