Arte de Roubar
Um "pastiche", se quisermos utilizar uma expressão simpática, ou, se não quisermos, um simplório repositório (muitos tempos mortos, nenhum espírito de economia, diálogos péssimos) dos elementos que se costumam encontrar com mais saliência na superfície dos filmes daqueles cineastas - acção e gangsters, personagens verborreicas, intrigas cheias de alçapões.
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Um "pastiche", se quisermos utilizar uma expressão simpática, ou, se não quisermos, um simplório repositório (muitos tempos mortos, nenhum espírito de economia, diálogos péssimos) dos elementos que se costumam encontrar com mais saliência na superfície dos filmes daqueles cineastas - acção e gangsters, personagens verborreicas, intrigas cheias de alçapões.
No caso, a história centra-se em dois bandidos razoavelmente incompetentes (Ivo Canelas e Enrique Arce) que depois de um golpe falhado numa praça de touros são convidados por um mordomo (Nicolau Breyner) a irem roubar um van Gogh esquecido na mansão de uma condessa (Magui Mira). Depois há "surpresas", e várias coadjuvantes femininas, onde pontifica Soraia Chaves como "barwoman". Toda a gente fala em inglês (mesmo na praça de touros) e cada um com o seu sotaque (o que dá uma candura de "teatro amador", sem desprimor) sem que nada justifique o inglês ou os sotaques para além, como a produção explica, da facilidade de penetração no "mercado internacional" (salvo erro desde que o grande Fernando Fragata filmou em inglês "Pesadelo Cor de Rosa", que tanto furor fez no "mercado internacional", que esta justificação não se ouvia). Mas o inglês é o menos, num filme que mais do que ser "insituado" apaga conscientemente todas as referências locais e culturais, e funciona por "abolição" de um universo palpável - tem com Portugal a mesma relação que alguns filhos de sopeira têm com as mães: uma profunda vergonha.
Ainda exigências do "mercado internacional", dirão, cuja "conquista" não faz prisioneiros, como bem sabemos e "A Arte de Roubar", numa cena com sepulturas na cave, bem exemplifica.