Saramago rejeita polémica no dia da estreia de “Ensaio sobre a cegueira”

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Prémio Nobel português diz que protestos são "manifestações de mal humor" Enric Vives-Rubio (arquivo)

“É uma associação, ou associações de cegos que decidem, em primeiro lugar, ter uma opinião sobre um filme que não viram – e isso infelizmente, sobretudo para eles, que não podem ver. Alguém lhes terá dito que o filme é violento, que os cegos se portam mal, e eles reagem de uma maneira absolutamente, enfim, não sei como chamar-lhe”, continuou.

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“É uma associação, ou associações de cegos que decidem, em primeiro lugar, ter uma opinião sobre um filme que não viram – e isso infelizmente, sobretudo para eles, que não podem ver. Alguém lhes terá dito que o filme é violento, que os cegos se portam mal, e eles reagem de uma maneira absolutamente, enfim, não sei como chamar-lhe”, continuou.

“A estupidez não escolhe entre cegos e não cegos. É uma manifestação de mal humor, assente sobre coisa nenhuma, e pronto, acabou, nada mais”, acrescentou ainda o autor português radicado em Espanha.

Para José Saramago, a explicação para os protestos contra o filme está na natureza humana: “Na minha opinião, a espécie humana, o Homem, é um doente mental, e isso manifesta-se de uma quantidade de maneiras, desde o futebol (...) até qualquer outra coisa que implique movimentos de massas, que implica a abdicação da razão própria”, disse. “Nós somos feitos assim”, concluiu.

Federação de cegos quer boicotar 75 salas de cinema

A Federação de Cegos dos Estados Unidos pretende que o filme de Fernando Meirelles seja retirado, mas, até que isso aconteça, o objectivo é boicotar 75 salas de cinema, onde o “Ensaio sobre a cegueira” (“Blindness”, no título em inglês) vai ser projectado a partir de hoje.

“Tanto o livro como o filme retratam os cegos como incapazes de fazer seja o que for, até como viciados, criminosos. Isto é completamente absurdo”, opinou o director executivo da federação, John Paré, também citado pela TSF.

A organização teme que a imagem passada pelo filme tenha consequências graves para os invisuais. “Há 70 por cento de cegos nos Estados Unidos que estão desempregados. E este filme reforça isso. Provavelmente, vai levar a que os cegos tenham menos oportunidades, e até a perderem o emprego”, lamentou Paré.

O representante da Federação de Cegos rejeitou ainda a teoria de que o filme seja uma alegoria. “A ideia de que se trata de uma metáfora é ridícula. Isto é um filme sobre cegos e sobre a capacidade dos cegos. É absolutamente errado”, concluiu.

"Ensaio sobre a cegueira" retrata uma estranha epidemia de cegueira branca que gera o caos no seio de uma comunidade, com o instinto de sobrevivência a sobrepor-se à civilização. O filme, que conta com a interpretação de Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover e Gael García Bernal, foi apresentado pela primeira vez em Maio, na abertura do Festival de Cinema de Cannes e tem estreia marcada em Portugal para 13 de Novembro.