Tha Carter III

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Há muito que o hip-hop não é uma cultura estrita, há muito que está legitimado, mas não há muita canção assim: pianada, groove subtil mas impiedoso, cordas grandiosas, ali no meio dos metais uma trompete que faz as ruas mais sujas parecerem épicas, a rugosidade do silabar de Wayne (garganta a fazer de conta que já viveu muito, garganta suja) e a classe de Jay-Z, de tipo que já viu, já viveu, já sabe tudo e agora educa o herdeiro para o seu lugar de padrinho. E depois há o coro de putos: perfeito. É impressionante, a primeira metade de "Tha Carter III": abre com as cordas em crescendo de "3 Feat", suportadas num simples e eficaz beat e logo aí Wayne mostra que está com as rimas em topo de forma. Passa pela mencionada "Mr Carter" e chega a um dos mais estranhos e fascinantes temas do ano: "A milli", que assenta num beat por cima de um simples loop em que se repete a expressão "a milli". Wayne rapa numa espécie de ragga quebrado, enquanto o beat (constantemente decomposto) faz a canção avançar aos repelões. Não se baixa a bitola cedo: "Comfortable" podia ser uma proto-balada dos Neptunes para Justin Timberlake, enlevada em cordas e reminiscente da soul, com Wayne em plena souplesse; "Dr. Carter "é jazzy e balançada num contra-baixo enredado em cool; e "Phone home" começa com glokensiel como uma BSO de um filme série B antes de um beat arrasar a introdução - tudo isto é o paraíso do hip hop. Depois vem um par de musiquinhas para fazer criancinhas, as duas ou três faixas competentes aparentadas de R & B e mais um par de canções digitfunk a reporem "Tha Carter III" no topo. Com uma dúzia de beats inspirados, uma rara capacidade de usar instrumentos tradicionais e um vigor na rima que surge muito de quando em vez constrói-se um clássico instantâneo que, respeitando as regras básicas do género, se passeia confortavelmente por todos os registos e mais alguns. Não é o futuro do mundo, é um tremendo presente.

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Há muito que o hip-hop não é uma cultura estrita, há muito que está legitimado, mas não há muita canção assim: pianada, groove subtil mas impiedoso, cordas grandiosas, ali no meio dos metais uma trompete que faz as ruas mais sujas parecerem épicas, a rugosidade do silabar de Wayne (garganta a fazer de conta que já viveu muito, garganta suja) e a classe de Jay-Z, de tipo que já viu, já viveu, já sabe tudo e agora educa o herdeiro para o seu lugar de padrinho. E depois há o coro de putos: perfeito. É impressionante, a primeira metade de "Tha Carter III": abre com as cordas em crescendo de "3 Feat", suportadas num simples e eficaz beat e logo aí Wayne mostra que está com as rimas em topo de forma. Passa pela mencionada "Mr Carter" e chega a um dos mais estranhos e fascinantes temas do ano: "A milli", que assenta num beat por cima de um simples loop em que se repete a expressão "a milli". Wayne rapa numa espécie de ragga quebrado, enquanto o beat (constantemente decomposto) faz a canção avançar aos repelões. Não se baixa a bitola cedo: "Comfortable" podia ser uma proto-balada dos Neptunes para Justin Timberlake, enlevada em cordas e reminiscente da soul, com Wayne em plena souplesse; "Dr. Carter "é jazzy e balançada num contra-baixo enredado em cool; e "Phone home" começa com glokensiel como uma BSO de um filme série B antes de um beat arrasar a introdução - tudo isto é o paraíso do hip hop. Depois vem um par de musiquinhas para fazer criancinhas, as duas ou três faixas competentes aparentadas de R & B e mais um par de canções digitfunk a reporem "Tha Carter III" no topo. Com uma dúzia de beats inspirados, uma rara capacidade de usar instrumentos tradicionais e um vigor na rima que surge muito de quando em vez constrói-se um clássico instantâneo que, respeitando as regras básicas do género, se passeia confortavelmente por todos os registos e mais alguns. Não é o futuro do mundo, é um tremendo presente.