Cristóvão Colombo era português, e de Cuba?

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Segundo a tese oficialmente aceite, Colombo é genovês DR

Dos EUA virá o luso-americano Manuel da Silva Rosa - que há 17 anos anda às voltas com os mistérios de Cristóvão Colombo. Na sua palestra em Cuba, Manuel Rosa vai argumentar que o documento aceite como testamento de Colombo, de 22 de Fevereiro de 1498, é falso. Ora, este documento, sublinha Rosa, é o único em que Colombo aparece descrevendo-se como um tecelão de Génova. "Todos os outros documentos que falam de Génova são de terceiros", diz Manuel Rosa. "Há 200 ou 300 anos que os historiadores se apoiam neste testamento como prova de que ele era um tecelão de Itália."

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Dos EUA virá o luso-americano Manuel da Silva Rosa - que há 17 anos anda às voltas com os mistérios de Cristóvão Colombo. Na sua palestra em Cuba, Manuel Rosa vai argumentar que o documento aceite como testamento de Colombo, de 22 de Fevereiro de 1498, é falso. Ora, este documento, sublinha Rosa, é o único em que Colombo aparece descrevendo-se como um tecelão de Génova. "Todos os outros documentos que falam de Génova são de terceiros", diz Manuel Rosa. "Há 200 ou 300 anos que os historiadores se apoiam neste testamento como prova de que ele era um tecelão de Itália."

Manuel Rosa não está nada convencido desta tese, e explica porquê: um dia antes de morrer, a 19 de Maio de 1506, na cidade espanhola de Valhadolid, Colombo mandou chamar o notário e várias testemunhas para fazer uma adenda a um testamento que tinha feito em 1502.

Pedido a um morto

A adenda de 1506 ainda existe, no Arquivo Geral das Índias, em Sevilha; o testamento de 1502 é que já desapareceu. Em seu lugar, surgiu uma cópia do suposto testamento de 1498, apresentada por um Baltasar Colombo, cidadão de Génova, que dizia ser familiar do explorador. Afinal, estava a decidir-se uma das maiores heranças do mundo, no processo judicial que se seguiu à morte de Colombo.

No testamento de 1498, Cristóvão Colombo pede a alguém já falecido, o príncipe D. Juan, filho dos reis de Espanha, que faça cumprir o documento, uma vez que o posto de almirante fazia parte da herança e eram os reis quem controlava esses cargos.

Mas D. Juan morrera a 6 de Outubro de 1497 - quatro meses e meio antes do testamento de 1498 ter sido escrito. "Se Colombo não soubesse que D. Juan tinha morrido, ficava a dúvida. Mas temos uma prova escrita de que ele sabia."

Essa prova surgiu cerca de um mês depois da morte do príncipe: os filhos de Colombo, D. Fernando e D. Diego, tinham sido pajens de D. Juan, e existe o relato de um deles a dizer que o pai os enviou, a 2 de Novembro de 1492, para servir de pajens à rainha D. Isabel. Portanto, conclui este historiador amador, Colombo soube da morte do príncipe pelo menos um mês depois e não iria assinar um documento três meses mais tarde a pedir a um morto para cumprir o testamento.

Então, se não era de Génova, era de onde? "Com tudo o que sei hoje, só pode ter sido um nobre português ou estrangeiro que veio para Portugal muito novinho aprender a língua portuguesa como materna", diz Manuel Rosa. "Ele nunca escreveu em italiano. Escrevia em castelhano com palavras portuguesas. E quando escrevia para Itália, escrevia em castelhano."

Veríssimo Serrão convencido a "99 por cento" de que Colombo seria português

Muitos mistérios em torno de Critóvão Colombo continuam em aberto. Onde está sepultado - na República Dominicana? - é um deles. O que foi fazer para Espanha? Foi de facto trabalhar para os reis católicos, Fernando e Isabel? Ou era um agente secreto ao serviço do rei português D. João II, para desviar as atenções espanholas da costa africana e da descoberta do caminho marítimo para a Índia?

Cristoval Colon, como era conhecido Colombo em Espanha, era o nome que inventou para se proteger?

Informático de profissão, a paixão de Manuel Rosa é investigar a vida do navegador. O resultado desse trabalho encontra-se nas 638 páginas da versão portuguesa do livro O Mistério Colombo Revelado (Ésquilo), publicado em 2006.

Manuel Rosa continua na peugada de Colombo, e promete trazer alguns factos novos no final do ano, numa nova edição do seu livro, mais concisa e clara.

Esta tese sempre foi muito atacada, principalmente pelo facto de quem a investigou não ser licenciado em História.

Mas o historiador Veríssimo Serrão, depois de ter lido a imensa pesquisa de Manuel Rosa, escreveu-lhe para dizer: "[...] Que o seu Colombo Revelado foi objecto de leitura e releitura, e que me convence a força da argumentação que o Manuel Rosa apresenta. Posso dizer que estou de acordo com o Manuel Rosa em 99 por cento dos pontos que oferece à meditação do leitor."

Na carta, em parte disponível no site do autor (www.colombo.bz), Veríssimo Serrão diz ainda: "Há muito que eu defendo também ser ele um "agente duplo" de D. João II, que foi necessário ao grande monarca até 1488, mas que após o descobrimento do Cabo da Boa Esperança já não servia o plano índico ou indianista de Portugal!"