Farmacêutica Merck contratou médicos para assinar artigos científicos

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Milhares de cidadão processaram a Merck por causa dos efeitos do Vioxx Mike Sega/Reuters

Segundo o estudo, a empresa, cujas experiências eram elaboradas, executadas, analisadas e escritas por cientistas internos, convidava posteriormente investigadores externos apenas para dar nome aos artigos. A função destes investigadores limitava-se, muitas vezes, à leitura e edição do artigo.

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Segundo o estudo, a empresa, cujas experiências eram elaboradas, executadas, analisadas e escritas por cientistas internos, convidava posteriormente investigadores externos apenas para dar nome aos artigos. A função destes investigadores limitava-se, muitas vezes, à leitura e edição do artigo.

O Vioxx foi um medicamento amplamente utilizado como anti-inflamatório contra a artrose e outras dores agudas. No entanto, a droga foi retirada do mercado depois de se ter relacionado com milhares de acidentes cardiovasculares. A Merck, após ser alvo de dezenas de milhares de processos, aceitou indemnizar as vítimas em 3 mil milhões de euros.

Joseph Ross, da Mount Sinai School of Medicine, em Nova Iorque, foi o primeiro autor do estudo agora publicado no JAMA e as suas palavras para a Merck são muito duras. Segundo o médico, o artigo quase que “põe em causa toda investigação aceite, que tem vindo a ser feita pela indústria farmacêutica e pela academia”. O que está em causa é o fenómeno denominado pela comunidade científica como “ghostwriting”, que acontece quando não se nomeia como autores as pessoas que realizaram a maior parte da investigação ou que escreveram o artigo.

A Merck defendeu-se das acusações. A empresa alega que pode contratar outros investigadores para fazerem o rascunho dos artigos antes de os dar aos médicos cujo nome aparece na publicação. No entanto, o produto final é do médico e “reflecte a sua opinião”, disse ao jornal "The New York Times" James Fitzpatrick, advogado da farmacêutica. O jornal norte-americano cita alguns médicos que foram autores de artigos sobre o Vioxx e que não concordam com o trabalho agora publicado pelo JAMA.

O JAMA escreveu um editorial sobre este assunto em que diz que “é claro que pelo menos alguns autores pouco contribuíram para o estudo ou para a revisão e, ainda assim, deixaram-se nomear como autores”. A questão ética que se levanta também atinge as revistas que receberam estes artigos sem questionarem o processo das autorias.