Guerra nuclear localizada destruiria a camada de ozono
“Iríamos assistir a uma queda dos níveis de ozono, que persistiria por muitos anos”, declarou Michael Mills, num comunicado de imprensa da Universidade do Colorado, em Boulder. O primeiro autor do artigo que saiu ontem na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences adverte que, a latitudes médias, a redução da camada de ozono rondaria os 40 por cento. “Isto poderia ter efeitos enormes na saúde humana e nos ecossistemas terrestres, aquáticos e marinhos.”
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“Iríamos assistir a uma queda dos níveis de ozono, que persistiria por muitos anos”, declarou Michael Mills, num comunicado de imprensa da Universidade do Colorado, em Boulder. O primeiro autor do artigo que saiu ontem na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences adverte que, a latitudes médias, a redução da camada de ozono rondaria os 40 por cento. “Isto poderia ter efeitos enormes na saúde humana e nos ecossistemas terrestres, aquáticos e marinhos.”
Segundo os autores, o problema reside na fuligem. Se o Paquistão e a Índia iniciassem uma guerra nuclear privada em que cada um lançasse 50 bombas iguais à de Hiroxima, os incêndios produzidos iriam gerar grandes quantidades de fuligem. Cerca de cinco milhões de toneladas subiriam para a atmosfera, e grande parte iria acumular-se na estratosfera, entre 17 e 50 quilómetros de altitude.
É nesta região que a camada de ozono se situa, e que absorve a maioria da radiação ultravioleta (UV), protegendo a Terra. Aqui, a fuligem iria absorver uma quantidade de radiação que resultava no aumento de temperatura capaz de destruir as moléculas de ozono.
Cancro da pele aumentariaAs consequências seriam radicais: passados cinco anos do começo das explosões, à latitude de Lisboa, no Hemisfério Norte, a camada de ozono iria sofrer uma redução compreendida entre os 25 e os 40 por cento. No Pólo Norte a redução seria de 50 a 70 por cento. O equador sentiria menos os efeitos das explosões e recuperaria mais rapidamente.
Com menos ozono, a radiação UV que atravessaria a atmosfera seria muito maior. Em Portugal, o número de cancros de pele poderia aumentar cerca de 200 por cento. As plantas seriam menos capazes de realizar a fotossíntese e os ecossistemas ficariam comprometidos. Só ao final de dez anos é que o ozono começaria a recuperar.
A equipa utilizou conjuntos de processadores para gerarem três simulações do efeito que uma guerra nuclear local teria na atmosfera, ao longo de dez anos.
“A grande surpresa é que um conflito regional, em pequena escala, é capaz de desencadear uma perda de ozono maior do que os efeitos previstos numa guerra nuclear à escala mundial”, afirmou Brian Toon, segundo autor do artigo, que trabalha com Mills.
Nos anos 80, os estudos sobre as consequências de uma guerra nuclear total ficavam aquém destes. “Esses modelos não levavam em conta a subida de fuligem para a estratosfera e o subsequente aumento da temperatura”, diz Toon.
Segundo o investigador, o arsenal que se utilizaria para esta guerra seria menos de 0,1 por cento de todas as bombas nucleares que existem. “O mundo tornou-se num local muito mais perigoso, quando as acções de dois países no outro canto do mundo podem ter um impacto tão dramático no planeta”, afirma Toon.