"Monopólio" globalizado - vender cidades em vez de ruas

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A nova edição substituiu as avenidas mais famosas de cada país pelas cidades do mundo Lionel Balteiro (arquivo)

Com uma votação a decorrer, desde 22 de Janeiro, em www.monopolyworldvote.com, os fãs do "Monopólio" votaram (até ontem), a partir de uma lista pré estabelecida, as 20 cidades que serão conhecidas apenas em Agosto deste ano e vão estar no tabuleiro desta nova edição, disponível nas lojas de todo o mundo no último trimestre de 2008.

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Com uma votação a decorrer, desde 22 de Janeiro, em www.monopolyworldvote.com, os fãs do "Monopólio" votaram (até ontem), a partir de uma lista pré estabelecida, as 20 cidades que serão conhecidas apenas em Agosto deste ano e vão estar no tabuleiro desta nova edição, disponível nas lojas de todo o mundo no último trimestre de 2008.

O novo tabuleiro contará com 22 cidades. Dois dos espaços, nas propriedades de renda mais baixa, ficaram reservados pela "Hasbro Co" (empresa de brinquedos que comercializa actualmente o "Monopólio") para duas cidades que não façam parte das nomeadas. Os fãs escolheram e desde ontem que se sabe quais as possibilidades que poderão ocupar os dois espaços de renda mais baixa: Quebeque (Canadá), Taipei (China), Winnipeg (Canadá), Novi Sad (Sérvia), São Francisco (EUA), Lvyv (Ucrânia), Joanesburgo (África do Sul), Gdynia (Polónia), Auckland (Nova Zelândia), Szczcin (Polónia), Cancún (México), Berna (Suíça), Brisbane (Austrália), Adelaide (Austrália), Ízmir (Turquia), Tamworth (Inglaterra), Cork (Irlanda), Chennai (Índia), Volendam (Holanda) e Waterford (Irlanda). Deste conjunto, apenas duas constarão do tabuleiro, a escolha é novamente feita pelos cibernautas que poderão votar até 5 de Março.

Compra-se, vende-se, hipoteca-se. Passa-se de pelintra a rico (ou vice-versa) num ápice. Em apenas algumas horas, qualquer um pode ser empresário de topo. É preciso saber gerir as notas de papel e, claro, que a sorte bafeje o momento do lançamento dos dados. Mas afinal o que faz com que o "Monopólio" tenha sido o jogo mais vendido de Portugal em 2007 (mais de 10 mil tabuleiros) e cerca de 750 milhões de pessoas já o tenham jogado em todo o mundo?

Segundo especialistas, que analisaram o fenómeno de vendas, em alta ao fim de mais de sete décadas, o "Monopólio" é um jogo apelativo porque permite aos indivíduos adquirir, mesmo que por breves instantes ficcionados, aquilo que desejam na vida real. Dinheiro, propriedades, hotéis, a possibilidade de serem ricos está próxima. Por outro lado, como disse Edward Parker, um dos irmãos da "Parker Brothers", o segredo do "Monopólio" está na oportunidade de “derrotar o nosso melhor amigo sem lhe causar quaisquer danos”.

A dupla origem do jogo

Na história do "Monopólio" há duas faces da mesma moeda, que é como quem diz dois criadores diferentes para o mesmo tabuleiro. A versão apresentada pela "Parker Brtohers", tida como oficial, identifica como criador do jogo Charles Darrow, um trabalhador precário dos anos de depressão bolsista (causada pelo "crash" de 1929) que, tendo pouco que fazer, entreteve-se a criar um mapa das ruas de Atlantic City, cidade onde passava férias de verão, numa toalha plastificada da mesa de cozinha. Depois de ter testado a sua invenção com alguns familiares e amigos, em 1933, Darrow resolveu propor a comercialização do jogo à "Parker Brothers" que não só não o aceitou como considerou as regras demasiado complexas, encontrando-lhe 52 erros de concepção. Charles Darrow não desistiu e criou, por conta própria, cinco mil exemplares que se tornaram um sucesso. À medida que a procura do jogo crescia, a "Parker Brothers" apercebeu-se do seu potencial e, numa versão mais simplificada que aquela que o seu criador apresentou inicialmente, o monopólio inundou as prateleiras dos brinquedos, sendo logo em 1935, o jogo mais popular dos EUA. Com uma percentagem nas vendas, Darrow tornou-se milionário.

Mas, ao que parece, a ideia que estaria na génese do jogo mais vendido do mundo não foi inventada por Darrow. Em 1904, Lizzie J. Maggie já havia patenteado “The Landlord’s Game", um jogo com as mesmas características do "Monopólio", onde a única diferença consistia no facto de não se poder comprar propriedades mas apenas arrendá-las. O objectivo de Lizzie seria ensinar as teorias político-ecocómicas de Henry George, defensor da aplicação da renda única aos proprietários de terras, para que se desencorajasse a especulação e se abrisse caminho para uma sociedade mais igualitária. O processo esteve nas barras dos tribunais norte-americanos durante mais de uma década acabando por concluir-se judicialmente que foi na versão de Lizzie Magie que o jogo começou a ser conhecido e a circular nas comunidades Quakers, a que Lizzie pertencia, nas duas primeiras décadas do século XX.

Majora traz o "Monopólio" para Portugal

Em Portugal, o "Monopólio" começou a ser comercializado pela Majora no final da década de 40 mas só a partir dos anos 70 é jogado pela generalidade das famílias que pertenciam, na sua maioria, à classe-média.

Segundo o site oficial da Hasbro (detentora actual da comercialização do jogo pelo mundo), o "Monopólio" já foi jogado durante 99 horas numa banheira, 10 dias num elevador em movimento e 36 horas de cabeça para baixo. O jogo que já teve peões de madeira, metal e plástico e até já foi feito em chocolate (para o catálogo de Natal de 1978 dos armazéns Neiman Marcus) está espalhado em 103 países com 37 línguas diferentes sendo que mais de 200 edições já foram publicadas ( a mais conhecida é o clássico "Número Nove").

Mas nem tudo é igual desde a sua origem. O "Monopólio" modernizou-se, já não se joga apenas no clássico tabuleiro de cartão. No ecrã do telemóvel ou do computador (acessível em centenas de sites espalhados pela Internet) tudo se tornou mais fácil. O jogo pode ser salvo em andamento e retomado a qualquer momento. Não estará o tradicional "Monopólio" a perder a identidade?