Espólio do poeta Alberto de Lacerda procura espaço para ser preservado

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Lacerda começou a publicar na década de 50 Nelson Garrido (arquivo)

O espólio em causa inclui documentos, cartas, poemas originais, fotografias, uma “biblioteca muito completa”, uma colecção de discos LP (jazz e música clássica), desenhos, gravuras e quadros de várias épocas.

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O espólio em causa inclui documentos, cartas, poemas originais, fotografias, uma “biblioteca muito completa”, uma colecção de discos LP (jazz e música clássica), desenhos, gravuras e quadros de várias épocas.

Actualmente, todas as peças do acervo estão em Londres, onde o poeta viveu e morreu.

Das instituições já contactadas, a que mais acolhimento deu à ideia foi a Câmara Municipal de Cascais. A assessora da presidência da autarquia, Cristina Pacheco, confirmou estarem em curso contactos com o escritor e testamentário.

“O espólio é, de facto, o documento de uma época, das duas ou três culturas que se cruzam na vida dele [Lacerda]”, comentou Luís Amorim de Sousa.

Segundo este escritor, ainda em vida o poeta, “que não tinha herdeiros”, procurou que ele cuidasse de encontrar um local onde, depois de morto, as peças compradas ao longo da vida fossem guardadas. Lacerda, cujos últimos anos de vida foram de “dificuldades, de sacrifícios”, nunca se preocupou com o destino do espólio.

Uma das peças é uma colagem e acrílico sobre tela de Paula Rego, sem título, oferta da pintora ao poeta e amigo, em Londres, nos anos 60. A obra vai a leilão, a 11 de Março, no Palácio do Correio Velho em Lisboa, “com o conhecimento e consentimento” de Paula Rego. O dinheiro servirá para “cobrir as despesas” já efectuadas em todo este processo e para “garantir um fundo de maneio que permita levar o projecto avante”.

Alberto de Lacerda nasceu em Moçambique em 1928, concluiu em Portugal em 1946 os estudos secundários e partiu para Londres, onde trabalhou como jornalista para a BBC.

Cinco anos depois da sua fixação em Londres, um livro escrito em português e traduzido para inglês por Arthur Waley, "77 poems", é bem acolhido pela crítica e torna-o conhecido.

"Palácio", publicado alguns anos depois, confirma-o como poeta de eleição junto de um público mais vasto. Dele diria um dia o brasileiro Carlos Drummond de Andrade, citado à Lusa por Amorim de Sousa: Este é "o poeta que me ensina".

Da sua vasta obra, destacam-se, além de "Palácio", "Tauromagia", "Elegias de Londres", "Meio-dia", "Sonetos" e os dois volumes de "Oferenda" - que reúnem a obra publicada entre 1955 e 1981 e cinco livros inéditos, entre os quais "Mecânica Celeste" - "Átrio" e "Exílio".