“Arca de Noé” do reino vegetal inaugurada no Árctico

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Se uma variedade desaparecer no seu meio natural, os Estados poderão recuperar as sementes que depositaram neste banco Daniel Rocha (arquivo)

Escavado na rocha gelada, a mil quilómetros do Pólo Norte, este“cofre” pode guardar sementes congeladas por 200 anos, mesmo no pior cenário de alterações climáticas e se os sistemas mecânicos de refrigeração falharem.

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Escavado na rocha gelada, a mil quilómetros do Pólo Norte, este“cofre” pode guardar sementes congeladas por 200 anos, mesmo no pior cenário de alterações climáticas e se os sistemas mecânicos de refrigeração falharem.

Jens Stoltenberg, primeiro-ministro norueguês, disse que esta medida defende “os blocos de construção da civilização” de forças que estão a ameaçar a “diversidade da vida que sustenta o nosso planeta”.

Mais de cem países já enviaram cem milhões de sementes para Svalbard: arroz, milho, trigo, alface, batatas, entre outras espécies.

“Teremos uma grande colecção (de sementes) aqui, uma das maiores do mundo”, disse Cary Fowler, director do Fundo Mundial para a Diversidade das Culturas (Global Crop Diversity Trust), fundo que financia o projecto.

Stoltenberg e Wangari Maathai, ambientalista queniana que recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2004, colocaram numa das câmaras frias a primeira caixa com sacos de sementes de arroz da colecção, numa cerimónia de inauguração que contou ainda com a presença do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

“É um jardim do Éden glacial”, comentou Barroso, quando a temperatura exterior era de 10 graus Celsius negativos. Na entrada foi esculpido no gelo um grande urso polar.

“Aqui as condições são perfeitas”, comentou Fowler dentro de um túnel que leva às três salas que vão receber quase dois mil milhões de sementes.

“Dantes, quando acidentes, desastres naturais ou a guerra destruíam as sementes não havia nada a fazer. Eram como dinossauros extintos”, explicou Fowler. “Mas com esta arca vamos acabar com a extinção porque vamos ter um ‘Plano B’, uma segurança”. “Aqui estamos muito longe dos perigos do mundo. Não vejo o que poderá correr mal”, comentou Fowler.

As sementes depositadas neste banco – a temperaturas de 18 a 20 graus Celsius negativos - continuam a pertencer aos depositários, que incluem os maiores bancos genéticos nos países em desenvolvimento.

Se uma variedade desaparecer no seu meio natural, os Estados poderão recuperar as sementes que depositaram neste banco.

A reserva de sementes custou cerca de seis milhões de euros, financiados pela Noruega.