Como a crise do “subprime”, nascida nos Estados Unidos, contaminou as finanças mundiais
1 – Os bancos fizeram empréstimos imobiliários a famílias insolventes
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
1 – Os bancos fizeram empréstimos imobiliários a famílias insolventes
Num mercado imobiliário americano em plena efervescência, os bancos e organismos de crédito acordaram empréstimos às famílias que apresentaram muito poucas garantias (“subprimes”). Estes empréstimos arriscados, frequentemente a taxas variáveis, eram associados a taxas de juro elevadas.
2- Difusão de más crenças no mercado
Para repartir o risco associado a estes empréstimos, os bancos reagruparam e depois transformaram-os em títulos de obrigações que, por sua vez, eram de seguida vendidos no mercado. É a prática da “titularização”. Com a aceitação do risco elevado destes produtos, os investidores (bancos, fundos de investimento, “hedge funds”) contavam beneficiar de taxas de remuneração elevadas.
3 – Mudança do mercado imobiliário americano
A partir do final de 2005, as taxas de juro americanas começaram a subir enquanto o mercado imobiliário sufocava: milhares de famílias viram-se incapazes de honrar os seus empréstimos. Para os bancos, isso traduziu-se em perdas. Os investidores que tinham comprado as obrigações associadas aos empréstimos “subprimes” viram o valor do seu investimento deteriorar-se.
4 – Crise de confiança
Os bancos viram-se numa situação em que, como numa partida de Póquer, sabiam o que tinham no seu balanço mas não o que se encontrava no dos outros. Os títulos associados a “estes maus créditos imobiliários foram comprados um pouco por todo o mundo (…). Não se sabe bem por onde estão repartidos os riscos. E todos os dias, há bancos que acabam por apresentar nas suas contas dizendo sim, comprei, e ai está o que perdi”, explicava sexta-feira o director geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss Kahn. Daí a grave crise de confiança, que desde o fim de Julho, fez cair as Bolsas e paralisou o mercado interbancário, graças ao qual os bancos emprestam fundos entre eles. Os bancos já não fazem empréstimos uns aos outros, porque não sabem qual é a amplitude das perdas dos concorrentes.
5 – Intervenção dos Bancos Centrais
Face à quase paralisia do mercado interbancário, os principais bancos centrais começaram a intervir massivamente desde Agosto injectando muitas centenas de milhares de euros em liquidez. Na última terça-feira, a Reserva Federal norte-americana (Fed), o Banco do Canadá, o banco central suíço, o Banco Central Europeu e o Banco de Inglaterra começaram mesmo a anunciar a sua primeira intervenção coordenada de grande amplitude desde o 11 de Setembro de 2001. Ao mesmo tempo, a Fed e o Banco de Inglaterra começaram a baixar as suas taxas de juro de referência para aliviar os bancos e o conjunto das respectivas economias.
6 – Porque dura a crise?
Os bancos estão ainda a publicar os seus resultados do terceiro trimestre, o período durante o qual a crise explodiu. O montante das despesas continua a subir à medida que o valor dos activos ligados ao mercado imobiliário americano continua a baixar. As más notícias não param de chegar: grandes nomes como a Bear Stearns, Morgan Stanley, Wachovia, Bank of America, ou em França o Crédit Agricole anunciaram perdas mais importantes do que o previsto. O mercado interbancário mantêm-se quase paralisado e sobre medicação dos bancos centrais. Os economistas estimam que será preciso esperar que os grandes bancos americanos tenham publicado as suas contas anuais auditadas para que a crise chegue ao fim, o que se deve arrastar pelo menos até ao fim do primeiro semestre de 2008.