Untrue

Foto

De repente, tomávamos contacto com a música de um esteta londrino que preferia manter o anonimato (numa das poucas entrevistas, há semanas, ao diário “The Guardian”, revelava que nem os amigos sabem que cria música), sendo inserido na corrente dubstep que, entretanto, chegava ao grande público depois de anos na obscuridade. Para além de Burial, a edição dos álbuns de Kode9 ou Skream trataram de conferir credibilidade ao fenómeno, mas desde logo ficou evidente que Burial transcendia qualquer tentativa de classificação. A sua música possui características atribuíveis ao dubstep – as ambiências opacas sacudidas por subgraves ou as reverberações do dub – mas organizadas de forma singular. Um ano depois regressa com outra obra admirável. Mais um disco de silhuetas, evocando cidades adormecidas povoadas por seres solitários, tacteando na escuridão. Cadências rítmicas disjuntas que se desenvolvem vagarosamente e vozes que se diluem por entre camadas de som vindas de paragens longínquas. Mas agora há mais luz. Mais profundidade de campo. Maior intensidade dramática. E muito mais vozes. São canções, mas canções entoadas por quem necessita de auxílio e já não tem voz. São canções, mas rodeadas de abstracção. São indícios, fantasmas que se agitam ao som de música remota, distorcida no contexto de um sonho. Pensa-se na electrónica granulada das produções da obscura mas mítica editora alemã Basic Channel. No som metalizado do drum & bass produzido por Photek. Em Goldie do álbum “Timeless”. Nas produções dub do excêntrico Lee Perry. Nos ambientes enevoados de algumas canções dos Joy Division. Ou em Brian Eno. Pensa-se nisso e não se chega a lugar algum. Porque “Untrue” é o tipo de obra aberta, vulnerável, com capacidade de partilha, convite para cada um mapear a sua geografia íntima, criando a sua própria banda sonora.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

De repente, tomávamos contacto com a música de um esteta londrino que preferia manter o anonimato (numa das poucas entrevistas, há semanas, ao diário “The Guardian”, revelava que nem os amigos sabem que cria música), sendo inserido na corrente dubstep que, entretanto, chegava ao grande público depois de anos na obscuridade. Para além de Burial, a edição dos álbuns de Kode9 ou Skream trataram de conferir credibilidade ao fenómeno, mas desde logo ficou evidente que Burial transcendia qualquer tentativa de classificação. A sua música possui características atribuíveis ao dubstep – as ambiências opacas sacudidas por subgraves ou as reverberações do dub – mas organizadas de forma singular. Um ano depois regressa com outra obra admirável. Mais um disco de silhuetas, evocando cidades adormecidas povoadas por seres solitários, tacteando na escuridão. Cadências rítmicas disjuntas que se desenvolvem vagarosamente e vozes que se diluem por entre camadas de som vindas de paragens longínquas. Mas agora há mais luz. Mais profundidade de campo. Maior intensidade dramática. E muito mais vozes. São canções, mas canções entoadas por quem necessita de auxílio e já não tem voz. São canções, mas rodeadas de abstracção. São indícios, fantasmas que se agitam ao som de música remota, distorcida no contexto de um sonho. Pensa-se na electrónica granulada das produções da obscura mas mítica editora alemã Basic Channel. No som metalizado do drum & bass produzido por Photek. Em Goldie do álbum “Timeless”. Nas produções dub do excêntrico Lee Perry. Nos ambientes enevoados de algumas canções dos Joy Division. Ou em Brian Eno. Pensa-se nisso e não se chega a lugar algum. Porque “Untrue” é o tipo de obra aberta, vulnerável, com capacidade de partilha, convite para cada um mapear a sua geografia íntima, criando a sua própria banda sonora.