Delírios

"Delírios" não constitui excepção a este esquemático modo de reproduzir imagens "inovadoras", à velocidade do raio, insistindo na noção crítica (ou aparentemente crítica) da fama como alienadora do sentimento e do valor individual: um sem abrigo, bem parecido, como convém, acolhe-se sob a protecção de um fotógrafo falhado, um dos "paparazzi" de ocasião das pequenas estrelas da música e da televisão e, depois de ter percorrido a via-sacra das festas e das inaugurações, ascende, por via das relações sexuais, com uma produtora de um cruzamento entre telenovela e "reality show", a um estrelato que lhe permite declarar, publicamente, o seu amor por uma "infeliz" (porque sem amor) cantora pop.

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"Delírios" não constitui excepção a este esquemático modo de reproduzir imagens "inovadoras", à velocidade do raio, insistindo na noção crítica (ou aparentemente crítica) da fama como alienadora do sentimento e do valor individual: um sem abrigo, bem parecido, como convém, acolhe-se sob a protecção de um fotógrafo falhado, um dos "paparazzi" de ocasião das pequenas estrelas da música e da televisão e, depois de ter percorrido a via-sacra das festas e das inaugurações, ascende, por via das relações sexuais, com uma produtora de um cruzamento entre telenovela e "reality show", a um estrelato que lhe permite declarar, publicamente, o seu amor por uma "infeliz" (porque sem amor) cantora pop.

Toda esta "profunda" linha de argumento se encontra recoberta de cogitações sobre a amizade e a fidelidade, não faltando a componente freudiana, na sequência em que o fotógrafo (Steve Buscemi, o único actor que merece menção, embora se debata com a inverosimilhança da sua personagem) leva o amigo sem abrigo a um almoço em casa dos pais, do mais estereotipado que imaginar se possa.

No final, o jovem (um "borracho" para adolescentes com problemas de acne), a fazer olhinhos para a câmara, reconcilia-se com o amigo que, entretanto, planeara matá-lo com uma arma disfarçada numa máquina fotográfica reconvertida, arrependendo-se no último momento, até porque o vê feliz nos braços da sua "cinderela pop".

Comédia romântica? Crítica acerba à facilidade da fama televisiva e/ou à lógica transposta dos "reality shows"? Nada disso. Apenas um exercício no vazio, enfeitado por imagens de consumo fácil, projectadas em montagem pseudo elaborada. Sobretudo, nunca nos apercebemos do ponto de vista, do objectivo "real" do objecto, tão hesitante parece ser o seu desenvolvimento dramático (se é que a palavra se justifica em tão gigantesca superficialidade).

O que fica passa, em grande parte, pela dinâmica do portfolio para jovens actores emergentes, por um "voyeurismo" simplista para espectadores adolescentes, que nunca viram uma comédia romântica, deixando-se deslumbrar por cenas delicodoces e por falsas declarações de amor. Às vezes até parece preferível uma comédia estúpida daquelas que Hollywood adora, que, pelo menos, não engana ninguém e não surge engalanada com pretensões de cinema alternativo.