Portugal, um retrato social

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Num belíssimo fim de tarde de Setembro, regressava de uma praia da costa vicentina com o meu cunhado João. Vínhamos de carro, devagar. O caminho era íngreme e andávamos aos solavancos. Às tantas, ele disse-me que comprara um disco novo e pôs um CD a tocar. Fiquei surpreendida, parecia-me a banda sonora de um filme recente, um filme muito bom, qual era? Não falámos mais até chegarmos à casa onde estávamos com as nossas famílias a passar os últimos dias de Verão. O João foi buscar a capa do CD e mostrou-ma. Chamava-se “Cinema” e era do Rodrigo Leão, acabara de ser posto à venda.

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Num belíssimo fim de tarde de Setembro, regressava de uma praia da costa vicentina com o meu cunhado João. Vínhamos de carro, devagar. O caminho era íngreme e andávamos aos solavancos. Às tantas, ele disse-me que comprara um disco novo e pôs um CD a tocar. Fiquei surpreendida, parecia-me a banda sonora de um filme recente, um filme muito bom, qual era? Não falámos mais até chegarmos à casa onde estávamos com as nossas famílias a passar os últimos dias de Verão. O João foi buscar a capa do CD e mostrou-ma. Chamava-se “Cinema” e era do Rodrigo Leão, acabara de ser posto à venda.

Tempos depois, eu e o António Barreto começámos a trabalhar na série “Portugal, um Retrato Social”. E um dia o António perguntou-me o que se ia passar com a música da série. Seria de época? De livraria, como se costuma dizer neste meio, quando nos referimos à música em pacote em que há de tudo, como em qualquer loja?

Diz o António que eu respondi de imediato: banda sonora original, Rodrigo Leão! Emprestei-lhe o Cinema e conquistei-o logo.

Depois, foram muitos os receios. Podia não aceitar, podia ser muito caro, talvez não estivesse em Portugal... E se não gostasse do projecto? Foi o Fernando Alves que desfez todas as apreensões ao contar-me como haviam trabalhado juntos tempos atrás. E foi assim que isto apareceu.

Não mais esquecerei o dia em que juntámos três músicas do Rodrigo a três planos sequência que lhe enviei para ele ver: uma escola primária que lhe lembrou a infância, o trânsito na rua Ribeira das Naus numa noite perto do dia de Natal, um homem a soldar no exterior de um navio num dia de luz fria de Inverno.

Sei que a memória deste dia ficará para sempre ligada ao outro, no fim do Verão, quando regressava da praia e ouvi o “Cinema” pela primeira vez.Joana Pontes