Quinta onde nasceu Irene Lisboa votada ao abandono
No pátio da casa rodeada por pinheiros e eucaliptos, cresce vegetação selvagem."Está em ruínas desde há sete anos quando se tentou comprar", "sem portas e janelas" e com as "telhas a cair", disse à Lusa Joaquim Luís, presidente da Junta de Freguesia de Arranhó.
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No pátio da casa rodeada por pinheiros e eucaliptos, cresce vegetação selvagem."Está em ruínas desde há sete anos quando se tentou comprar", "sem portas e janelas" e com as "telhas a cair", disse à Lusa Joaquim Luís, presidente da Junta de Freguesia de Arranhó.
Situada em A-dos-Arcos, a quinta, com 36 hectares, estende-se por terrenos agrícolas, onde continua a predominar a vinha, e mantém ainda uma adega "completamente degradada", que noutros tempos era usada como apoio aos trabalhos do campo, retratados por Lisboa nas suas obras.
A Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos tem vindo a estabelecer contactos com a família paterna de Irene Lisboa para comprar o espaço e tranformá-lo numa casa-museu, mas "a família nunca se mostrou muito receptiva", disse à Lusa a vereadora da Cultura, Gertrudes Cunha. O museu Irene Lisboa acabou por ser inaugurado, nos finais de Junho, numas antigas instalações da Junta de Freguesia de Arranhó, reunindo pela primeira vez todo o acervo documental da vida e obra da poetisa.
O objectivo continua a ser adquirir a quinta. "O irmão de Irene Lisboa morreu há dois anos e estamos a negociar com os vários herdeiros", disse a autarca, explicando que a quinta está a ser alvo de partilha entre os descendentes, o que torna difícil a venda do imóvel.
A Quinta da Murzinheira confina com a Quinta do Monfalim, que num estado de degradação visível, há muito deixou de ser o local idílico "de grande beleza", "temporadas inigualáveis" e "as remotas tardes", que a poetisa descrevia sob o pseudónimo João Falco em "Começa uma vida", um registo autobiográfico onde contrapõe os tempos de infância aos anos em que estudou num colégio interno em Lisboa.
A autora de "13 Cantarelos" (a sua primeira obra publicada) nasceu a 25 de Dezembro de 1892, fruto de uma relação entre Luís Emídio Vieira Lisboa e uma criada, "a rapariga do campo enganada", como escreve em "Começa uma vida".
O pai renegou a sua paternidade e aos três anos de idade Irene foi viver com a madrinha, entre uma casa da Baixa de Lisboa e a Quinta do Monfalim. Aos seis anos, afastada do pai e da mãe, teve de ser baptizada com o nome da família paterna para poder entrar no colégio interno. Irene do Céu ganhou o apelido Vieira Lisboa, mas ficaria para sempre desligada da família e da terra que a viu nascer.