Mata do Ramiscal ainda é santuário de biodiversidade apesar do fogo de Agosto
A singular concentração de azevinhos de grande porte e séculos de idade resistiu também às chamas, com excepção de um ou outro exemplar que arderam.
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A singular concentração de azevinhos de grande porte e séculos de idade resistiu também às chamas, com excepção de um ou outro exemplar que arderam.
O balanço, feito por uma equipa de técnicos do parque e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foi apresentado ontem - Dia Internacional da Biodiversidade (ver página 21) -, durante uma deslocação do secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, e do presidente do Instituto da Conservação da Natureza, João Meneses, a uma das zonas afectadas.
Uma visita em que foi possível ver que não só as marcas do grande incêndio não desapareceram da paisagem, como se mantém aceso o conflito institucional entre os organismos ligados à conservação, com o PNPG à cabeça, e as autoridades locais sobre a melhor forma de combater os incêndios nesta área sensível.
O vereador do Ambiente e protecção civil de Arcos de Valdevez, Martinho Araújo, referiu a existência de árvores mortas no vale do Ramiscal mas o director do PNPG, Henrique Pereira, recusou a ideia de que o fogo tenha sido "uma tragédia" para a área de protecção integral, que, nas zonas mais altas da encosta norte, dominada por espécies arbustivas, mostrava ainda as cicatrizes negras das chamas. Esse coberto de giestas demorará, segundo os técnicos, mais um a dois anos a recuperar.
Os dados, notou Henrique Pereira, demonstram o potencial do carvalhal como corta-fogo: foram poucos os danos verificados em áreas de Quercus robur afectadas pelas chamas quando comparados às zonas de pinhal do Mezio também atingidas pelo incêndio que devastou mais de 3900 hectares do parque. Os carvalhos afectados demonstram boa capacidade de regeneração e, na zona de maior densidade de azevinho, nas cotas mais baixas e húmidas do vale, as chamas nem chegaram a penetrar, deixando a salvo este biótopo único no país.
O incêndio do ano passado afectou pelo menos cem mil árvores, pinheiros, na sua maioria, cujo abate foi promovido pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês nas últimas semanas. Quando ainda falta vender dois lotes de madeira, a operação rendeu já 400 mil euros, 60 por cento dos quais serão entregues às comissões dos baldios afectados pelo fogo. Os restantes 40 por cento serão entregues ao Instituto da Conservação da Natureza, cujo presidente prometeu ontem aplicar parte da verba em acções de reflorestação.