Santana reincide nas "diferenças insanáveis" com Marques Mendes

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Marques Mendes continua a marcar o terreno no PSD Fernando Veludo/PÚBLICO

E rematou com uma directa a Pacheco Pereira, que, na véspera, o desafiara a aliar-se a Paulo Portas para formar um novo partido.

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E rematou com uma directa a Pacheco Pereira, que, na véspera, o desafiara a aliar-se a Paulo Portas para formar um novo partido.

Disse Santana: "Havia um fado célebre da Hermínia Silva que tinha uma estrofe permanente que era 'Anda, Pacheco'. Em matéria de partidos, podia haver uma 'Desanda, Pacheco'."

Referia-se o deputado ao que considera serem as maiores divergências de Pacheco Pereira face ao PSD e ao facto de o comentador ter pertencido a outro partido. A tirada de Santana pode ser encarada como uma blague, mas o certo é que a semana foi fértil em episódios que ilustram as dissidências internas que vão minando a actual direcção social-democrata.

Mendes desafiou o Governo socialista a baixar os impostos e Manuela Ferreira Leite, que preside à mesa do congresso, veio imediatamente criticar (ver texto em baixo). O líder do PSD fustiga Sócrates por causa do aeroporto da Ota, "um erro colossal", que o leva mesmo hoje a Belém para se reunir com o Presidente da República, e três deputados eleitos por Leiria, entre os quais o barrosista Feliciano Barreiras Duarte, manifestaram apoio à posição do Governo. "Temos uma agenda política própria", justificou o deputado, citado pela Lusa. Já Santana Lopes tinha participado nos Estados Gerais da Direita, promovidos pela Nova Democracia de Manuel Monteiro, onde abriu pela primeira vez a caixa de Pandora do novo partido. Foi aí que o ex-presidente do PSD vaticinou "uma cisão" interna, que tanto pode acontecer com as eleições directas em 2008, "ou mesmo em 2007".

Dissertando sobre o rumo do centro-direita, Santana falou da "existência de relações insanáveis dentro do PPD/PSD entre pessoas e sobre a maneira de ver a sociedade portuguesa". Mas não se excluiu do partido: "Sinto-me bem na instituição a que pertenço." A réplica chegou da Madeira, com Alberto João Jardim a fazer coro com Marques Mendes, proclamando que "o PSD não é de direita". "Portanto, não tem nada a ver com esses solilóquios que um grupo de meninos anda a fazer por Lisboa, auto-rotulando-se de direita." Argumentos cruzados que anteciparam a reunião de hoje do conselho nacional, o órgão mais importante entre congressos.

Menezes em Lagos

Enquanto os barrosistas se escudam num silêncio férreo, a ala santanista escolhe a esfera mediática. Ontem, na reunião do grupo parlamentar que decorreu à porta fechada, à parte uma duríssima crítica que dirigiu ao vice-presidente Azevedo Soares por criticar o desempenho de anteriores executivos sociais-democratas, Santana Lopes elogiou o líder. "Nós convergimos na análise da prestação do Governo, divergimos na forma como o partido deve funcionar em termos de valores e princípios que sempre foram seus", declarou Santana, à saída da reunião, acrescentando que "um ex-presidente do partido não deve ser opositor [ao actual líder] – é desagradável". Mas tratou de lembrar que, há sete anos, quem pediu a demissão do então presidente do partido, Durão Barroso, foi o próprio Marques Mendes.

Apostado em passar por cima deste alarido, o líder do PSD foi para o terreno, reunindo-se com associações empresariais em Braga e Aveiro, onde voltou a defender medidas para reanimar a economia, que passam pela redução dos impostos. Cruzando estes encontros institucionais com reuniões com militantes e dirigentes locais, até à Páscoa, Mendes e todos os dirigentes nacionais participarão em iniciativas distritais sobre a Ota, os impostos, a saúde, o ambiente e a cultura.

Amanhã, Marques Mendes estará em Setúbal, um dos distritos mais fustigados pelo desemprego. Mais a sul, na marina de Lagos, o seu adversário mais directo, Luís Filipe Menezes, é o orador principal de um jantar-comício promovido pela distrital local. E o PSD vai voltar a falar a várias vozes.