Gentil Martins defende penalização "da mulher que faz do aborto regra"

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O médico considera que os abortos clandestinos não vão desaparecer se o "sim" vencer Manuel Roberto/PÚBLICO (arquivo)

"A maioria das mulheres não merece ser punida, mas algumas devem ser mesmo punidas. Uma mulher que faz do aborto regra merece ser penalizada, pelo seu desrespeito absoluto pelos valores da vida", sustentou Gentil Martins, ontem à noite, durante um debate que travou com o seu colega e porta-voz do movimento renovador comunista, Cipriano Justo.

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"A maioria das mulheres não merece ser punida, mas algumas devem ser mesmo punidas. Uma mulher que faz do aborto regra merece ser penalizada, pelo seu desrespeito absoluto pelos valores da vida", sustentou Gentil Martins, ontem à noite, durante um debate que travou com o seu colega e porta-voz do movimento renovador comunista, Cipriano Justo.

Organizado pela Associação Carta Cívica, o debate contou também com a presença das deputadas do PS Teresa Venda, Matilde Sousa Franco e Paula de Deus e do deputado Ricardo Gonçalves.

"Vão continuar a existir abortos clandestinos"

Gentil Martins iniciou a sua intervenção com um ataque às posições que têm sido defendidas pelo ex-secretário de Estado social-democrata Albino Aroso em relação ao aborto.

"Albino Aroso, pessoa respeitável, diz que sabe que a vida é um acto contínuo, mas não sabe quando começa. Fico espantado, porque depois dos avanços com o aparecimento das ecografias, dos métodos de fecundação 'in vitro' e de outros progressos científicos, ainda não sabe quando começa a vida", ironizou Gentil Martins.

Na sua intervenção, Gentil Martins defendeu ainda que, mesmo que o "sim " ganhe no referendo, "vão continuar a existir abortos clandestinos" e explicitou uma das razões de fundo que o levam a ser contra o aborto: "Sou médico da mãe e do ser que está dentro dela. Dentro dessa mãe há um ser em desenvolvimento que não é para deitar para o lixo".

Existe uma "liberalização clandestina" do aborto

Falando em nome pessoal, o porta-voz da Renovação Comunista e membro do Movimento Intervenção e Cidadania (MIC), Cipriano Justo, fez um breve balanço dos 22 anos de vigência da actual lei do aborto.

"Passados 22 anos sobre a vigência da actual legislação, encontramo-nos no momento de análise que precede a síntese de novos valores e regras de conduta. A actual situação é caracterizada por uma liberalização, de facto, mas clandestina do aborto", defendeu Cipriano Justo.

Para Cipriano Justo, um resultado favorável ao "sim" no referendo permitirá que "progressivamente se vá eliminando uma das opacidades mais iníquas da vida democrática" portuguesa.

A vitória da despenalização "tornará explícito o que ainda hoje é só latente: incluir nos padrões dos valores socialmente dominantes as práticas das mulheres que realizam o aborto, garantindo-lhes ao mesmo tempo segurança e igualdade de oportunidades a um acto que agora é clandestino, financeiramente especulativo e socialmente discriminatório", denunciou ainda o docente universitário e Cipriano Justo.