Especialista alerta para risco de doenças tropicais na Europa devido às alterações climáticas
Virgílio do Rosário, antigo coordenador da Unidade de Malária do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em Lisboa, adiantou que não existem garantias de que os focos restritos de doenças infecciosas, típicas de climas quentes, como a Malária ou a Leihsmaniose, não possam ressurgir na Europa.
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Virgílio do Rosário, antigo coordenador da Unidade de Malária do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em Lisboa, adiantou que não existem garantias de que os focos restritos de doenças infecciosas, típicas de climas quentes, como a Malária ou a Leihsmaniose, não possam ressurgir na Europa.
"Esta situação está a ser objecto de prevenção e vigilância a nível europeu, através do Projecto EDEN, onde até 2010, estão a ser desenvolvidos métodos e ferramentas de monitorização e de alerta precoce, que vão ser disponibilizados às autoridades de saúde pública a nível global e regional", afirmou.
"Trata-se de um projecto da Comissão Europeia que reúne 48 institutos de investigação, em 24 países, incluindo Portugal, e que visa compreender o impacto das actuais mudanças ambientais sobre a difusão de novas doenças, emergentes ou re-emergentes, no território europeu".
Na semana passada realizou-se uma conferência na Turquia, onde estiveram reunidos todos os coordenadores nacionais e membros de investigação dos respectivos Institutos, para efectuar apresentações gerais sobre os dados recolhidos em estudos localizados nos respectivos países, assim como para expor ideias que podem ser utilizadas por outros projectos.
Carla Sousa, uma investigadora portuguesa que participou na conferência, disse que no EDEN encontram-se integrados seis projectos verticais, cada um dedicado a uma doença específica, como a Malária, a Leihsmaniose, o Vírus do Nilo Ocidental, assim como a doenças transmitidas por roedores e por carraças, estando Portugal apenas envolvido nos projectos da Malária e Leihsmaniose.
Segundo a investigadora, os diferentes institutos estão a realizar estudos localizados nos respectivos países, que no futuro serão aplicados a nível nacional e europeu, "que vão permitir identificar as zonas de risco, controlar o alastrar de doenças infecciosas e ajudar no seu controlo, assim como assegurar que sejam tomadas as devidas precauções".
"Há toda uma análise que tem vindo a ser feita - o primeiro passo tem sido tentar compreender como foi a situação no passado nos países em que se registraram surtos deste tipo de doenças, tentar reunir o maior número possível de registos que permitam compreender os factores que levaram a sua propagação, assim como aqueles que, para além dos programas de erradicação, levaram à extinção da Malária nos países europeus".
"O segundo passo é perceber qual a situação actual nos países em estudo, nomeadamente Portugal, através de dados que demonstrem a existência de comportamentos de risco por parte da população, o número de casos de Malária "importada", a existência de novas variáveis até agora não tidas em conta, como também trabalhar nas ferramentas que permitam saber como é que as variáveis actuais irão evoluir no futuro", acrescentou.
As afirmações dos especialistas portugueses surgem na sequência do alerta lançado pelo Director do Instituto Trópico em Munique, para o perigo da instalação da Malária na Europa Central, devido às temperaturas elevadas que se fazem sentir neste Inverno, provocadas pelas alterações climáticas.
Após a descoberta de mosquitos transmissores do parasita da malária na Baviera, no Sul da Alemanha, vários meios de comunicação social daquele país alertaram para a possível propagação de doenças tropicais.