Fun At The Gymkhana Club
Mas a forma como desordenava todos esses elementos era de tal forma desviante e frenética que o resultado final só podia ser uma sonoridade em bruto, que parecia em permanente construção. Dois anos depois poder-se-ia pensar que iriam domesticar a sua música, torná-la mais compatível com os diferentes ângulos em voga na música moderna, mas nada disso acontece. É verdade que há uma intencionalidade mais precisa em cada canção, uma estrutura melhor definida, como se pudéssemos visualizar cada um dos instrumentos no seu canto; uma rugosidade mais aprimorada. Nota-se, enfim, o trabalho de produção do seu membro mais influente, Gabriel Olegavich – neto do compositor russo Sergei Prokofiev, e que tem dado também nas vistas nos últimos tempos ao lado da inglesa Lady Sovereign. Mas, no essencial, continuam espontâneos, obsessivos, selvagens. A voz de Lola Olafisoye permanece caótica, distante do registo confortável da maior parte das cantoras dos nossos dias, resumo delirante de Nina Hagen, Grace Jones e Siouxsie. E a música volta a ser um híbrido laboratorial onde encontramos motivos de funk, rock, electrónicas ou R & B, numa junção de indícios (ESG, Prince, Timbaland, Gang Of Four) que nunca formam um corpo fechado. Há sempre um elemento nervoso fora do veio central; uma impureza que deforma a coerência; uma inflexão rítmica que vai contra o esperado. Olhando para o panorama contemporâneo, continuam sós. Talvez ainda mais isolados – apesar do álbum "Death Party" dos nova iorquinos Kudu, com quem partilham afinidades – na recriação de uma sonoridade urbana e dançante, compêndio felino de várias músicas que nunca chegam a ser alguma em particular. Agora estão mais retocados e o efeito surpresa da primeira vez não se faz sentir. Mas isso não chega para perturbar um disco onde há a mesma vontade de criar cenários lascivos e onde as tensões rítmicas robóticas são, afinal, excessivamente humanas.
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Mas a forma como desordenava todos esses elementos era de tal forma desviante e frenética que o resultado final só podia ser uma sonoridade em bruto, que parecia em permanente construção. Dois anos depois poder-se-ia pensar que iriam domesticar a sua música, torná-la mais compatível com os diferentes ângulos em voga na música moderna, mas nada disso acontece. É verdade que há uma intencionalidade mais precisa em cada canção, uma estrutura melhor definida, como se pudéssemos visualizar cada um dos instrumentos no seu canto; uma rugosidade mais aprimorada. Nota-se, enfim, o trabalho de produção do seu membro mais influente, Gabriel Olegavich – neto do compositor russo Sergei Prokofiev, e que tem dado também nas vistas nos últimos tempos ao lado da inglesa Lady Sovereign. Mas, no essencial, continuam espontâneos, obsessivos, selvagens. A voz de Lola Olafisoye permanece caótica, distante do registo confortável da maior parte das cantoras dos nossos dias, resumo delirante de Nina Hagen, Grace Jones e Siouxsie. E a música volta a ser um híbrido laboratorial onde encontramos motivos de funk, rock, electrónicas ou R & B, numa junção de indícios (ESG, Prince, Timbaland, Gang Of Four) que nunca formam um corpo fechado. Há sempre um elemento nervoso fora do veio central; uma impureza que deforma a coerência; uma inflexão rítmica que vai contra o esperado. Olhando para o panorama contemporâneo, continuam sós. Talvez ainda mais isolados – apesar do álbum "Death Party" dos nova iorquinos Kudu, com quem partilham afinidades – na recriação de uma sonoridade urbana e dançante, compêndio felino de várias músicas que nunca chegam a ser alguma em particular. Agora estão mais retocados e o efeito surpresa da primeira vez não se faz sentir. Mas isso não chega para perturbar um disco onde há a mesma vontade de criar cenários lascivos e onde as tensões rítmicas robóticas são, afinal, excessivamente humanas.