Costa da Caparica: reforçar dunas com areia da praia pode enfraquecer outros locais
João Joanaz de Melo, professor na Universidade Nova de Lisboa, afirma que a areia que está a ser retirada das praias do Norte vai levar o mar "a ir buscar areia a outro sítio, ou seja, às dunas", o que poderá fazer com que se repita a destruição de 16 metros de duna que ocorreu na semana passada.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
João Joanaz de Melo, professor na Universidade Nova de Lisboa, afirma que a areia que está a ser retirada das praias do Norte vai levar o mar "a ir buscar areia a outro sítio, ou seja, às dunas", o que poderá fazer com que se repita a destruição de 16 metros de duna que ocorreu na semana passada.
Para combater este problema ambiental, o professor sugeriu que sejam aproveitadas as areias dragadas ciclicamente no porto de Lisboa, pois são "ideais para colocar nas praias".
Qquando explicou o processo de intervenção que iria ser feito na Costa da Caparica, o presidente do Instituto Nacional da Água, Orlando Borges, disse que a retirada de areia das praias para reforçar o cordão dunar destruído era "perfeitamente normal" e que a areia seria "reposta rapidamente pelo mar".
Uma ideia que João Joanaz de Melo refuta, justificando que os rios já não trazem areia suficiente até às praias e é por isso que a zona da Caparica tem sofrido "grandes avanços do mar". Um avanço que, segundo um estudo da Universidade Nova, se salda em 410 metros desde os anos 40.
O especialista em gestão costeira e dirigente da associação ambientalista Geota explicou ainda que a falta de areia nas praias, o mau estado das dunas e as alterações climatéricas dos últimos anos são as principais justificações para a erosão de 16 metros na duna.
Além disso, a extracção de areia na zona da Cova do Vapor, nas décadas de 60 e 70, também contribuiu para que haja agora falta de areia no mar e nas praias.
Para Joanaz de Melo, estes fenómenos têm tendência a ser "cada vez mais frequentes" e "cada vez menos previsíveis", assim como o recuo da costa, pelo facto de o clima estar a modificar-se de dia para dia.
Como possíveis soluções, o dirigente do Geota propõe a manutenção do campo de esporões que já existe na Costa da Caparica, a criação de barreiras rochosas submersas e a colocação de algas artificiais debaixo de água, de forma a reter a força das marés.