PCP propõe inquérito parlamentar sobre voos da CIA

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António Filipe disse que esta proposta resulta da recusa do Governo em prestar esclarecimentos Manuel de Almeida/Lusa (arquivo)

Em conferência de imprensa, hoje, na Assembleia da República, o vice-presidente da bancada comunista, António Filipe, argumentou que o requerimento para a realização do inquérito parlamentar foi a “alternativa que restou” face às “sucessivas recusas” do Governo em prestar “cabais esclarecimentos”.

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Em conferência de imprensa, hoje, na Assembleia da República, o vice-presidente da bancada comunista, António Filipe, argumentou que o requerimento para a realização do inquérito parlamentar foi a “alternativa que restou” face às “sucessivas recusas” do Governo em prestar “cabais esclarecimentos”.

Na proposta, entregue hoje na Assembleia, o PCP argumenta que “é em face da falta de informação e da opacidade revelada pelos governos em funções e porque outras vias foram sendo sistematicamente encerradas ou inviabilizadas, que se impõe agora a via da constituição de uma comissão parlamentar de inquérito”.

Parlamento recebeu respostas evasivas

“Em causa está a forma como o Governo lidou, ou não lidou, com métodos inaceitáveis e intoleráveis de tratar pessoas, e a sua dignidade, a coberto do combate ao terrorismo”, refere o PCP, na proposta.

O deputado comunista Jorge Machado frisou que o Parlamento português “recebeu respostas evasivas, incompletas e vagas a requerimentos e a intervenções em plenário e ouviu, em comissão, menos informação do que aquela que obteve de textos oriundos do Parlamento Europeu”.

A proposta prevê o apuramento da “lista completa e identificação de passageiros e tripulação que transitaram nas aeronaves, ou embarcaram e desembarcaram em instalações aeroportuárias nacionais”, e de “qual o país de origem e o destino dos passageiros”.

O PCP quer esclarecer que conhecimentos tinham os Governos - dos ex-primeiro-ministros Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e do actual primeiro-ministro José Sócrates - “através dos serviços de informações, ou de contactos bilaterais acerca daquelas actividades”.

A proposta prevê apurar “eventuais responsabilidades por omissão, decorrentes, quer de não terem sido tomadas quaisquer medidas de fiscalização ou prevenção, quer de tais medidas se terem revelado insuficientes”.

Ouvir ministros desde o Governo de Durão Barroso

Entre a lista de pessoas a ouvir pela comissão de inquérito, o PCP propõe que sejam chamados os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros do actual e dos dois anteriores Governos, os eurodeputados Ana Gomes e Carlos Coelho, responsáveis pela comissão do Parlamento Europeu que investiga os voos, e o eurodeputado Giovanni Cláudio Fava, relator da Comissão Eventual.

O PCP quer igualmente ouvir os directores dos serviços de informações no período em inquérito, o director-geral das Alfândegas e Fernando Monteiro, “elemento de ligação que com frequência solicitou autorizações de voo e escala ao Instituto Nacional de Aviação Civil”.

A lista inclui ainda a audição de Abdurahman Khar, “testemunha e passageiro de um dos voos referenciados”, e oficiais de ligação em serviço na Base das Lajes, bem como directores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Questionado sobre um eventual “chumbo” da iniciativa pela maioria parlamentar socialista, o deputado António Filipe disse apenas que “a proposta é dirigida a todos os grupos parlamentares”.